Limão

08:26:00

É como se todos os lugares que eu olhasse tivessem um espectro do que é você. Algum cheiro lembra o perfume ruim e barato, alguém veste um sapatênis feio igual e há, em algum lugar, uma lembrança pendurada na parede. Seja doce, seja amarga, há sempre uma lembrança.

Todos os lugares, todos os cheiros, todas as estradas que eu pego, há um pouco de você. E por isso, querendo viver, acabo morrendo aos poucos em cada canto que atravesso. Independentemente de querer ou estar bem, esse monólogo já não engana ninguém e as plateias esvaziam cada vez mais. Cada vez mais desacreditado, desorientado, entristecido, tenho perdido a oportunidade de ter até mesmo os meus momentos mais íntimos - aqueles em que sento com meu caderno vermelho e digo o quanto preciso de você aqui. 

Sem chance ou perspectiva alguma de que essas lembranças digam adeus e você se torne só alguém no passado, tenho vivido a futilidade de cada dia mais querer parecer melhor - vivendo entre aparências fugazes e sorrisos amarelados. O gosto amargo do Marlboro não esconde o fel que sobe todas as vezes que lembro que preciso de você. Preciso da crença e do ódio estourando meu coração, preciso do calor do constrangimento de nunca ser ou parecer bom o suficiente. Eu sou um péssimo ator. Eu divido as minhas tristezas com quem já não habita esse plano e, tão distante, vai embora todos os dias, cada vez mais pra longe. 

São experiências que guardo com dor, com pesar. É um luto contínuo de alguém que morreu e não se despediu, alguém que enquanto se decompõe em minha vida, sobrevive e renasce em outras, alguém que enquanto vai sumindo nas paredes da memória, vai enfeitando as paredes de outras pessoas. Independente do que aconteça, do que eu queira, dos meus sonhos, todos os dias que eu penso em você, eu penso em desistir de mim mesmo. E isso arde como limão em feridas.

Como pode alguém que tem tanto amor causar tantos danos? São as contrapartidas que a vida nos dá. O meu fado é ficar distante, longe, perdido e com as minhas lembranças. Dias difíceis a este amásio são rotina. Bupropiona, Venlafaxina, Zolpidem. Cada dia que eu lembro de você, é uma pílula a mais que me prescrevem.  

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