Hoje eu decidi não falar sobre você.
Decidi que não iria olhar as fotos jogadas na rede e compartilhá-las, em privado, clandestinamente, com as pessoas que compartilho todos os dias o seu nome. Tomei a decisão de não falar, não lidar e esconder você, por um dia que seja, dentro da gaveta subutilizada da escrivaninha em que me pouso a escrever. Quero mantê-lo jogado em meio a papeis, canetas e recordações pouco valiosas para que eu possa pensar um pouco mais na grandeza da vida, no infinito de possibilidades que o presente abre e no futuro sem nós, nós imbróglios, nós eu e você.
Decidi calar minhas palavras naturais sobre a sua pessoa antes que, mais uma vez, rudemente, tentem me calar. Eu só falo sobre você. Viajo em tempos verbais que vão do pretérito ao futuro que eu mesmo crio, mas nunca estão no presente. Hoje eu resolvi sentir a sua ausência, a sua falta. Hoje eu resolvi perceber, de fato, o vazio que existe com ou sem você. O vazio que existe quando, olhando para o teto, desenho nossas ações dentro dos verbos ser, estar, amar. O mesmo vazio que existe quando olho para o lado e está lá, intacta, a colcha onde você jamais deitou. E nunca deitará.
Resolvi deixar de lado meu sol em peixes, meu ascendente em virgem. Resolvi deixar de justificar as irregularidades e faltas que venho cometido com o mover dos astros, das vidas passadas e dos meus carmas. Hoje eu decidi não falar sobre você, somente refletir, esperar.
E a espera é a tortura que dói mais. Hoje eu resolvi não falar sobre você...e estou explodindo. Sangrando. Latejando. Mas eu não posso, eu fiz um compromisso comigo mesmo e hoje o seu nome é nublado como o tempo lá fora. É indiferente, é lamento, é tristeza.
Decidi não falar sobre você. E não consigo parar de escrever, deve ser porque o silêncio também é uma resposta.