Você quer ser levado pelo vento
Ou abraçado por Deus?
Que diferença nos faz a beira deste parapeito
Se quem nos velará será o Diabo?
Quando estamos nus num parapeito de espelhos, enxergamos lá embaixo a cidade toda. A catedral gótica, a rua das muambas, os cemitérios, as vias, as vidas, as ligações, os embriões do progresso. Mas além de tudo isso, estamos nus a 5ºC. Entre o abismo que separa a vida da morte, tentando construir a ponte que nos permita transitar entre uma e outra sem pestanejar sobre os medos e as lamúrias do ser que nos tornamos, somos eu e você, Philippe. Parados sentindo o vento gelado queimar nossa pele, contradizendo todo nosso pouco entendimento sobre a ciência. Eu sou o teu reflexo.
Que diferença há entre nós se ambos construímos nós? Estamos perdidos no centro da maior cidade da América Latina querendo...não sei, o que queremos? O que buscamos? Deus sabe pelo que viemos lutando, combatendo gigantes com um escudo de latão e uma espada não afiada. Vivemos a um milímetro da morte todos os dias, sentindo o calor do seu hálito em nossos olhos. Não podemos chorar, pois se o fazemos, é porque gostamos, é porque queremos. Certamente lá embaixo nunca entenderão quem nós somos, quem nós temos que ser, e onde precisamos chegar pra viver. Dia após dia há um leão batendo na porta de nossos corações -Olá, posso acabar com o que você construiu durante a noite?
E a realidade ruge dentro de nós com fúria. Dói. A nossa essência nos fez criar a capacidade de resiliência, como se todas as noites ao deitar pudéssemos nos reconstruir do dia que tivemos. A noite nos reconstrói, não é ela que gostaríamos de encontrar daqui de cima? Deitar sobre o travesseiro que cheira a solidão, asquerosamente nos permite viver a ilusão da vida que não temos. O tremular das pálpebras ao abrirem-se quando a luz do sol as queima nos diz: -Chega! Pare de sonhar! Permita-se pouco! A realidade ruge à porta em instantes.
Há uma ditadura invisível se movendo lá embaixo tentando oprimir toda nossa ideologia de sonhar, de amar intimamente o segredo oculto dos olhos das pessoas. E qualquer tentativa é pra outra hora. O ditador, preso à sua pequena realidade resumida na palma de uma mão nos oprime a viver. Eu sou o pior do que há em você, Philippe. Sou a sua solidão, sua essência, seu eu escondido atrás de tantas vestes que lhe impuseram, eu sou o reflexo de dentro dos seus olhos no espelho, olhe e você saberá, de fato, quem você ama, quem você odeia, o que você quer, o que te amarra. Quando olhamos pro nosso reflexo nos enxergamos a fundo, mas mais uma dor dessas você aguenta? Com certeza, resiliência...
E que importa a circunstância atual da sua embriaguez? Ela não é a saída, sequer uma fuga momentânea. É o engano. É você mentindo pra você mesmo, porque essa luta é contra o que há de pior em você, todos os seus gigantes, todos os seus temores. Sua bandeira nunca tremulará em vitória se você desistir de lutar. Resiliência. Nessa opressão que o mundo lá embaixo impõe sobre nossas atitudes e pensamentos, por meio dessa constituição cheia de regras afetivas e de relacionamentos que inventaram e outorgaram, não há muito a ganhar, somente a perder. E não é isso que queremos. Lá embaixo o mundo é muito duro, neste arranha céu o vento te beija como um amigo e te pede: -Vem!? Abrir os braços e se deitar sobre o leito vazio da vida em busca da saída mortífera do fim é a solução, afinal? Apenas remédio. Se morrermos, quem continuará escrevendo-nos?
Ou abraçado por Deus?
Que diferença nos faz a beira deste parapeito
Se quem nos velará será o Diabo?
Quando estamos nus num parapeito de espelhos, enxergamos lá embaixo a cidade toda. A catedral gótica, a rua das muambas, os cemitérios, as vias, as vidas, as ligações, os embriões do progresso. Mas além de tudo isso, estamos nus a 5ºC. Entre o abismo que separa a vida da morte, tentando construir a ponte que nos permita transitar entre uma e outra sem pestanejar sobre os medos e as lamúrias do ser que nos tornamos, somos eu e você, Philippe. Parados sentindo o vento gelado queimar nossa pele, contradizendo todo nosso pouco entendimento sobre a ciência. Eu sou o teu reflexo.
Que diferença há entre nós se ambos construímos nós? Estamos perdidos no centro da maior cidade da América Latina querendo...não sei, o que queremos? O que buscamos? Deus sabe pelo que viemos lutando, combatendo gigantes com um escudo de latão e uma espada não afiada. Vivemos a um milímetro da morte todos os dias, sentindo o calor do seu hálito em nossos olhos. Não podemos chorar, pois se o fazemos, é porque gostamos, é porque queremos. Certamente lá embaixo nunca entenderão quem nós somos, quem nós temos que ser, e onde precisamos chegar pra viver. Dia após dia há um leão batendo na porta de nossos corações -Olá, posso acabar com o que você construiu durante a noite?
E a realidade ruge dentro de nós com fúria. Dói. A nossa essência nos fez criar a capacidade de resiliência, como se todas as noites ao deitar pudéssemos nos reconstruir do dia que tivemos. A noite nos reconstrói, não é ela que gostaríamos de encontrar daqui de cima? Deitar sobre o travesseiro que cheira a solidão, asquerosamente nos permite viver a ilusão da vida que não temos. O tremular das pálpebras ao abrirem-se quando a luz do sol as queima nos diz: -Chega! Pare de sonhar! Permita-se pouco! A realidade ruge à porta em instantes.
Há uma ditadura invisível se movendo lá embaixo tentando oprimir toda nossa ideologia de sonhar, de amar intimamente o segredo oculto dos olhos das pessoas. E qualquer tentativa é pra outra hora. O ditador, preso à sua pequena realidade resumida na palma de uma mão nos oprime a viver. Eu sou o pior do que há em você, Philippe. Sou a sua solidão, sua essência, seu eu escondido atrás de tantas vestes que lhe impuseram, eu sou o reflexo de dentro dos seus olhos no espelho, olhe e você saberá, de fato, quem você ama, quem você odeia, o que você quer, o que te amarra. Quando olhamos pro nosso reflexo nos enxergamos a fundo, mas mais uma dor dessas você aguenta? Com certeza, resiliência...
E que importa a circunstância atual da sua embriaguez? Ela não é a saída, sequer uma fuga momentânea. É o engano. É você mentindo pra você mesmo, porque essa luta é contra o que há de pior em você, todos os seus gigantes, todos os seus temores. Sua bandeira nunca tremulará em vitória se você desistir de lutar. Resiliência. Nessa opressão que o mundo lá embaixo impõe sobre nossas atitudes e pensamentos, por meio dessa constituição cheia de regras afetivas e de relacionamentos que inventaram e outorgaram, não há muito a ganhar, somente a perder. E não é isso que queremos. Lá embaixo o mundo é muito duro, neste arranha céu o vento te beija como um amigo e te pede: -Vem!? Abrir os braços e se deitar sobre o leito vazio da vida em busca da saída mortífera do fim é a solução, afinal? Apenas remédio. Se morrermos, quem continuará escrevendo-nos?