-Vamos fazer um Brainstorm então?

''Moço, calma, o que é isso?'' Foi a primeira tempestade que me ocorreu quando ouvi mais um desses termos do inglês trazidos pro nosso vocabulário tupiniquim. Pesquisei e descobri o que era, também por dedução já que ouvi-a em um programa de televisão. A segunda vez que me ocorreu foi um um ''Circuito de Vivências''. A esperança: um estágio na Rua Augusta; Realidade: muito dinheiro gasto com táxi pra chegar do metrô a vários pontos de São Paulo.
E eu reparei que quando é pra ter um Brainstorm produtivo, ele não me ocorre. Mas no dia a dia ele acontece todas as horas, por exemplo, eu estou escrevendo pensando aqui em como a minha vida é um saco de rotina e sonhos ambulantes. Dia após dia nessa ida e vinda de sonhar, nessa ansiedade que me come as unhas e me estupra os pensamentos.
-Será que vai dar certo? Mas e se não der?
-Devo ir?
-Devo ligar?
-Porque?
-Nossa, minha casa vai ter que ter isso.
-Espera, mas eu não tenho apartamento. Tenho que procurar um pra me mudar.
-Não tenho amigos pra dividir o aluguel.
-E se eu não conseguir? Vou continuar a engolir sapos?
-Sapo me lembra verde. Verde = Palmeiras. Meu avô é palmeirense. Como está meu avô?
-Olha o casal que bonito.
-Nossa eu queria ser casal.
-E o fulano? Me deu um pé na bunda. E ciclano? Também? Beltrano? Vixe, melhor nem tocar no nome...
-Nossa, saudade de stalkear o Zézinho.
-Hm, não passou no vestibular da vida mas passou do meu coração.
-Cheguei em casa.
-Eu mudaria a planta dessa casa e faria diferente. Quero uma decoração mais moderna.
-Acho que vou largar a faculdade de Gestão de Políticas Públicas e fazer Letras.
-Sempre quis dar aula, mas o mundo acadêmico é muito chato.
-Vou entrar no Facebook.
-Hm, curtiram meu status. Eu deveria estar lendo um livro.
-Vou entrar na banca e comprar uma revista. Eu adoro a Rolling Stones desde a capa da Fresno.
-Mas se eu comprar não vou ler.
-Mais vale um gosto, vou gastar meus últimos dez reais.
-Ah...será que valeu? Agora já foi.
-Minha mãe não se movimentou quando disse que estou com fome.
-Ninguém quer me ajudar
-Estão me ignorando hoje.
-Queria ter trazido minha máquina de escrever.
-E o twitter? E as mensagens? E o e-mail? E o coração? E a vida? E o mundo?

SOCORRO! São Pedro, pare esse Brainstorm!

Assim sendo, como fiz nos meus 18 anos, este ano vim aqui dar uma ajuda a vocês sobre o que me dar de presente, porque aniversário não é natal pra gente se lembrar ''do verdadeiro significado'' antes do presente né? Vamos assumir o capitalista e consumista que existe dentro de cada um de nós!
        Eu vou começar citando os presentes mais miúdos mas que gostarei de receber, porém sem modelos específicos ou exemplos: canecas, blocos de anotação, porta-retratos e bebidas (vodca, tequila e etc).
No mais, eis minha humilde lista, e ah, não se preocupem com os preços salgados, eu entenderei se vocês se juntarem em um, dois, três ou muitos pra fazer aquela vaquinha pra comprar algo, eu sei como é não ter dinheiro gente, sou phd nisso.
Coisas úteis:

 Um mixer! (Pra eu poder cozinhar com mais agilidade pra vocês! 

Um telescópio! (Isso uma amiga pediu no amigo secreto e eu achei sensacional, sério, se esforcem por ele!) 

Cabeças de animais em mdf! (Pra deixar a minha casa muito mais bonita para recebê-los!)

Uma coqueteleira de vidro. (Vi na loja de 1,99 e não consegui comprar, tamanha pobreza em que me encontro.) 

Luminária de galáxia. (É infantil, não gosto de Star Wars, mas é bem legal!) 

Kit Miniatura Absolut Sabores. (É útil!) 

Um ventilador!!! (Ventando é o que importa!)

Um maçarico de cozinha! (Primeiro que deve ser muito legal fazer uma graça na cozinha com ele, e é um desafio pra quem quiser dá-lo-me!)

Uma máquina de escrever!!! (E se funcionar vai ser muito, mas muito, mas muito mais amor, há anos eu quero uma.) 

 Coisas pra mim:

 A Graça da Coisa - Martha Medeiros (Que não é a Marta Assumpção, diga-se de passagem!) 

Esquerda Caviar - Rodrigo Constantino (Ele é babaca, eu sei, mas achei interessante a abordagem do livro.) 

Toda Poesia - Paulo Leminski (Porque Leminski é mais do que ''Repara bem no que não digo''.)  

Livro da mandalas. (Fins terapêuticos.) 

DVD Entre Cabelos, Olhos & Furacões - Filipe Catto (Ouçam esse cara!) 

DVD Ao Vivo no Auditório do Ibirapuera - 5 À Seco (Ouçam esses caras!) 

Multishow Ao Vivo - Maria Gadu (Ouçam essa mulher, por favor!)

       É isso amigos, obrigado, e lembrem-se de conversarem entre si pra não me presentearem com as mesmas coisas, às vezes é aí que vocês podem se juntar pra vaquinha. Escrevam um cartão bem bonito também, afinal, quando eu for um Senador da República Federativa do Brasil, lembrarei-me deles e de dar um emprego pra vocês., e sinceramente: eles me marcam muito mais. Mas não usem isso como pretexto pra não comprar nada.

Eu sou o colecionador de nãos,
Das negadas investidas da vida.
Eu sou o colecionador dos nãos,
Ácidos, não flácidos, tácitos!
Eu sou o colecionador:
Coleciono
A
Dor.
Deverasmente sentida,
Pressentida no meu pessimismo,
Na minha dor da coleção,
Todos estampados na estante do coração...
Um milhão, dois zilhões, vários deles,
Muitos nãos que não são anões.
Eu sou o colecionador de nãos.
Da mão que apedreja,
Do pássaro que tira os olhos,
Eu sou ele,
Aquele,
O café com leite,
O capacho.
Eu sou o colecionador dos nãos,
Todos vem, todos vão...
Todos intrinsecamente cravados,
Anulados, presos, retidos.
Todos tidos,
Todos não, nunca, nem, ninguém!
Ninguém!
Eu sou o pesadelo do meu ser,
Eu sou quem nunca quero ser.
Eu sou o amásio canastrão,
O fútil, inefável, esquecível...
(Esquecível!)
Colecionador de nãos.

      Mil vozes me dizem o que fazer, quando, na verdade, nem elas sabem se fazem o certo. É complicado viver — essa tem sido minha maior certeza, e conviver com ela dia a dia pode ser por um lado torturante e por outro lado uma forma de aprender, sabe-se lá com qual professor, que tudo é difícil, desde a matemática até a geografia. Difícil mesmo, nessa vida, é amar.
      Amar dói, rói, mata e ressuscita.
      Quantos amores a gente tem durante a vida pra tentar, num ciclo vicioso, esquecer o passado que nunca deixa de ser presente? Eis a tese que nenhum pós-doutor ainda abordou. Porque o amor não cabe aos meios acadêmicos dos ''intelectuais'', ele vive no que é simples, no que é luxuoso, no que é rico e no que é pobre. Não entende-se como esse bicho sobrevive, mas ele sempre está lá.
      Ele está lá quando a gente dança na festa da junina da escola com a menininha que a gente julga ser a mais bela do mundo, ele está com o primeiro beijo, o primeiro namorinho, a primeira paixão adolescente que nos fazer pensar em grandes ousadias que depois de um tempo se tornam pequenas. Ele vive vive dentro da nossa poesia interna, aquela que escrevemos num pedacinho de papel pra que ninguém leia e ninguém compreenda. Está, sobretudo, atrás do mar dos olhos. O mal dos olhos.
      O amor está na minha saudade, na minha solidão, na minha companhia imaginária de todos os almoços e jantares. Vive dentro do meu silêncio e acomoda-se todas as noites ao pé do meu ouvido sussurrando coisas incompreensíveis. É o bicho que foge de mim.
      Me veio agora aquela canção do Alexandre Nero, excelente cantor, que diz: ''O amor está em quem já deu/Em quem doou/Em quem doeu'' e que me transmite a intensa sensação de que muito eu já dei, muito doei e muito me doeu, agora, porque não eu merecedor dessa graça? A graça de dizer eu te amo em reciprocidade, a graça de fazer de tudo um grande evento em reciprocidade, de sorrir em reciprocidade. A graça do amor recíproco.
      Vez ou outra eu me pego querendo amar, mas é uma mera tolice deste que muito já fez pra não obter resultado nenhum, então eu junto as pontas dessa toalha de mesa e bato-a no quintal, como migalhas ao vento, porque já que eu não posso amar, que os pássaros saciem-se deste meu pouco sentimento...Ih, deu até poesia!

Mil vozes dizem me guiar,
Mil vozes me dizem o que fazer,
Não fazer.
Vá e faça!
Vá...e não faça...

Mil vozes fatigadas,
Angustiadas em seu abismo:
Me chamam, imploram...
Querem que eu me junte a elas.

Mil vozes ecoam pelo ar
De dentro de seu buraco.
Mil vozes me enlouquecem,
Me conduzem a ser fraco.

Mil vozes fracassadas,
Tão desoladas!
Desdenham dos meus lucros,
Mil vozes de sonhos desabitados.

Mil vozes sem poesia,
Sem sincronia com a voz do eu.
Mil vozes que gritam, irritadas,
Porque o sonho morreu.