Um dia esse diavai parar no meu baú, também.
Onde estão as decepções, as cartas de amores que não duraram noventa minutos, os poemas rascunhados, os desenhos mal feitos e as pequenas quinquilharias que juntei por algum motivo. Um dia esse sofrer pára lá, eu me esqueço e num dia desses, reviro e o encontro.
O imaginário do meu peito tem trabalhado ativamente a cada trinta minutos. Nos encontramos, nos amamos e você vai embora - eu preciso acordar pro mundo.
Estou cansado. Literalmente cansado. Corpo, mente e espÃrito.
Estou num limbo que parece sem fim. Perdido, jogado, à beira de uma rodovia onde todos passam com destino certo e eu sem saber pra onde ir. Estou por um fio. Triste, às vezes dou umas boas risadas, mas me encontrando comigo mesmo eu sofro. Lamento. E deságuo.
Desamparado, descampado, estou à mercê de mim mesmo. Sem sonho, sem projeto, sem perspectiva, quando me perguntam como a vida está, inevitavelmente tenho de soltar aquela pequena palavra tão cheia de significados ''bem!''.
Bem recluso, bem desanimado, bem detonado. Quando digo essas três letras há um alfabeto todo acontecendo dentro de mim. Meu coração está em brasa, queimando tudo por dentro. Meu cérebro não sossega e atrapalha minhas noites de sono e o crescimento dos meus cabelos, de novo. Eu estou bem.
Bem sozinho. Bem triste. Bem sem esperança.
E um homem sem esperança, eu já disse a mim mesmo, é um homem morto. Quando me abro, como se fossem glórias, desdenham de minhas aflições. Quando me calo, questionam meu silêncio. E quando tento desaparecer, não consigo, eu sou apegado à mania de querer sempre ajudar, auxiliar, encaminhar. Estou farto da vida.
Estou fora do aquário, dos planos, dos sonhos. Acabado. Devastado. E ainda assim tenho coragem de engolir meu choro entalado e dizer: ''está tudo bem''.
Não está.