Mantenha distância.
Tome muito cuidado, eu sou perigoso.
Tenho em mim feras sonhadoras
Prontas a devorar os seres nefastos.
Tome cuidado, eu não tenho paciência
Pra quem está começando na vida
E acha que por si só chegará a algum lugar.
Cuidado comigo.

Eu sou o puro perigo
Pois desembocam em mim todos os mares do mundo.
Eu sou o fim do prato que leva as barcas ao fim.
Eu sou o infinito tragando o orgulho e a intransigência.
Tome tenência, não se aproxime.

Não ache que sou inofensivo, pelo contrário
Eu sou tóxico.
Não ache que você pode passar o limite de minhas cercas,
Acerca de mim só aquilo que eu permito,
E saiba: quando digo que mato, eu não minto.
Lanço minha fé contra seu peito fatigado
Porque a fé é minha arma e a coragem meu escudo.
Eu não tenho paciência pra quem me desconhece,
Tome cuidado, o teu silêncio não me entristece.

Eu sou fera faminta,
Defensor de mim mesmo, defensor dos meus medos,
Eu sou mais forte que rio desembocando no mar
Eu sou eterno, eu sou ar.
Cuidado, só se aproxime se sabe conjugar o verbo amar.
Mantenha distância, eu sou fácil de arrebatar.

Esse é meu poema pra você viver mais,
Pra postergar a sua partida, a sua ida,
Pra que você fique mais um pouquinho
Antes que eu diga adeus e você vá com os seus.
Eu escrevo esse poema letra a letra
Esperando que as palavras parem o relógio:
Stop!
E você permaneceria pra sempre ali:
Preso ao meu papel, amarrado à minha caneta,
Sem saber quando eu lhe poria pra fora de mim.
-Sai, sai daqui! Isso eu não diria jamais.

Esse é meu poema que lhe dá uns últimos suspiros.

E olha, é nesse momento que eu piro
Tentando lhe trazer todo fôlego e toda vida de volta
Mas você já é uma parte que tem morrido em mim
E eu aqui, insistindo no papel e nas palavras
Como se fosse fácil permitir que o fogo do tempo
Não consumisse tudo o que há de você em mim.

E olha, eu tentei adiar ao máximo.
Esse é meu poema com o resto de ternura
Pra dizer que o que é bom sempre dura
Mas que a eternidade é eterna poesia
E jamais concreto armado.
Esse meu poema, meu amado,
É o que lhe faz sobreviver mais tempo
Dentro de mim sem que eu olhe para o fim
Tão ofegante em minha nuca dizendo que
Nunca vai ser eterno.

O tempo é cruel.

Esse é meu poema que lhe dá a última chance
Enquanto nossos braços se soltam.
Diz, diz por favor? Não continue acovardado
Com os impropérios da vida, não!
O relógio corre e não dirá ''Stop!'' para nós,
Diga o que deveria estar no lugar das reticências
Que nunca pontuaram o final.

Se ainda quiser me olhar, se ainda quiser dizer algo,
Diga enquanto há palavras dentro de mim
E inspiração pra passá-las ao papel.
Esse é meu último poema pra você
E o último suspiro que você terá dentro de mim.
E é só mais uma desculpa pra tentar evitar
E postergar aquilo que não queremos enxergar.

Esse poema é seu último suspiro.
Esse poema é pra você viver mais.
Esse poema é a minha desculpa.

      A gente só compreende o poder transformador de uma tempestade depois que ela passa por nós. A devastação, a destruição, o fim. Tudo cria uma nova expectativa: E agora? As árvores putrefatas do orgulho caídas em seu próprio eixo, os galhos da vaidade desfolhados, as casas fragilizadas: a segurança à mercê do nada. Nada nos transforma mais que uma tempestade presa aos nossos olhos e aos nossos sentimentos.
     Raios e trovões! A força do vento leva-nos à prisão acovardando-nos da morte. Ninguém nesse imenso monte de poeira estrelar é corajoso o suficiente para peitar a morte. ''Ei, estou aqui, venha me pegar!''. Ninguém. Somos cientes de sermos inutilidade pronta para ser varrida. A gente nunca consegue ser mais forte que o vento, mais poderoso que um raio que nos parte ao meio. Nós somos a tempestade que não destrói, só reconstrói: nossa força é a nossa capacidade de resiliência, de reconstruir dos destroços, de manter a esperança presa aos olhos, aquilo que é eterno se refaz. Nós podemos nos redimir, uma tempestade jamais volta atrás.
     Uma enxurrada nem sempre significa perda, nem sempre significa morte, fim, término. A destruição da tempestade reside em sua poesia que nos fazer lembrar que não, nós não somos eternos, nós não somos fortes, nós não somos ''eu'', nós não somos ''poder'', ''dinheiro'' ou ''posição social''. Quem nós somos senão sete bilhões orbitando em torno de uma estrela gigante que é uma entre cem bilhões dentro de uma galáxia que é outra em duzentos bilhões? Somente as tempestades nos revelam quem somos: momentos.

     Se eu disser que já nem sinto nada, que a estrada sem você é mais segura, eu sei você vai achar que é mentira, mas não é. Eu resolvi me colocar no mundo do meu jeito, seja experimentando novos visuais, experiências espirituais ou situações com pessoas diferentes. Não é que eu nem sinta mais nada, mas é que eu resolvi não sentir mais. Resolvi esquecer todos esses problemas que envolvem eu e você, todos esses poemas e passar pra uma escrita nova. Eu resolvi partir de dentro de mim pra me encontrar por aí.
       Eu resolvi sair pra encontrar quem eu sou e dizer-lhe um bom dia despretensioso. E parto sem culpas ou desculpas, parto porque eu sou pássaro com asas, parto porque estou enxergando, tal qual águia, kilômetros à frente e sobretudo porque a minha essência é não ficar parado. Não me esqueço, entretanto, desse passado tão presente em minha essência, tão construtor e transformador. Esse passado que é fogo.
     Parta também. Não espere por mim como eu não esperarei por você. Tome a sua atitude, seu lugar no mundo, não esconda essa tez que eu conheço tão bem e tão mal, nós sabemos, fulano, quem somos. Nós nos encontraremos, possivelmente, de novo, porque o mundo é um grão de mostarda retraído em sua pequenez e gigante em sua essência. Se eu tenho de me ocupar agora, que seja comigo e não com pensamentos ruins implorando que fique e permaneça pra sempre. Não existe eternidade na terra se não for a dos momentos. Eu sou eterno, você não.
      Eu aprendi a não sentir mais nada. Nenhum ciúme, nenhum amor, nenhum rancor, nenhuma raiva. Eu aprendi a me fechar num casulo de coisas boas que nunca se esgotam, sempre florescem dentro de mim dia após dia. Eu estou colocado no mundo de bigode e sem cabelo, com pessoas diferentes e as mesmas de antes, eu estou no mundo já não sentindo nada. E quando eu digo que não quero é porque não quero mesmo, essa é a última vez que eu fico triste por você. Obrigado por toda poesia.

Qual a cláusula do nosso contrato social nos obriga a crer na não importância das coisas?
     Parece que há um barreira invisível que nos divide: aqueles que se importam e aqueles que não se importam. Aqueles que se importam são os que fantasiam, sonham demais, que vivem alimentados de sua própria utopia e vivem a semana refletindo em cima das reflexões dos seus analistas. Os que se importam não importam. Aqueles que não se importam, por sua vez, são presos à realidade infame do mundo, aos fatos concretos, estão com as mãos cheias de pedras e o coração fechado para um balanço que nunca ocorrerá - não há uma caixa sequer no estoque de sentimentos. Os que não se importam, importam.
     Eu decidi me importar. Eu escolhi tirar a máscara do orgulho e deixar minhas verdadeira tez à mostra. Sim, eu me importo. Eu ligo quando sinto falta da voz, mando mensagem nem que seja pra perguntar o numero de uma pizzaria que não ligarei e penso durante o dia todo ''como está?''. E mesmo decidindo me importar, quase que numa imposição militar, eu ouso me camuflar no meio dos comuns - eu me importo, mas tento fazer parecer que não.
     Porque se importar, hoje em dia, é coisa de gente fraca, de gente carente de atenção, de carinho, de amor. Hoje quem se importa é ridicularizado. Bom mesmo é ser a Summer, que só esteve com o Tom enquanto lhe interessou. Quem quer ser Tom? O Tom é fraco, é iludido, é sonhador, é romântico, é meloso...o Tom sofre por se importar. Eu sei, há Summer's pela vida e são inevitáveis, em toda estatística há um outlier, e por ser assim a Summer não é propriamente uma vadia. Quem escolhe não se importar simplesmente...não se importa. Se colocou dentro de uma armadura impermeável que não permite que aqueles que se importam -Tom- os corrompam. Acreditam na velha teoria do ''pisa que ele cola, cola que ele pisa''.
     Eu sou o Tom. E tenho orgulho disso diante do que sou. Eu me importo sim, eu quero todos bem sim, eu sou egoísta sim. Eu escolhi me importar pra colocar energia à favor dos outros num ato nobre de altruísmo a fim de compreender que a minha vida gira em uma órbita e a dos outros em outras mas que juntos, somente juntos, é que formamos uma galáxia só nossa.
     Escolhi me importar pra sofrer, pra saber onde posso chegar e de onde posso sair, escolhi me importar pra conhecer quem eu sou e quem eu posso ser. Eu escolhi me importar pra criar a minha própria seleção natural: quem me decepciona, jamais sobreviverá na minha selva. E nessa selva, quem não se importa, se afoga na areia movediça do orgulho. Escolhi me importar pra tomar doses diárias e homeopáticas de humildade, pra saber reconhecer o erro e pedir perdão, pra saber voltar dois, três, quatro passos atrás em busca de um constante progresso rumo ao infinito que acontece hoje, nesse tempo, acontecerá amanhã e seguirá assim até...o infinito.
      E mesmo se eu fosse Summer, eu ligaria pra saber como o Tom está...eu escolhi me importar, eu escolhi ter um fogaréu aqui dentro que não me permite esquecer, deixar pra lá ou simplesmente não me importar. O meu fogo é o que me transforma, o seu gelo é o que te congela. Me desculpem os orgulhosos que se escondem no ''amor-próprio'', eu escolhi me importar.

     E quando a hora chegar? Perguntas como essa embalam os corações dos sonhadores, desses que vivem em devaneio em plena luz do dia, que param ali na fila do banco, na vitrine de sapatos ou mesmo andando pra um destino esquecido. Perguntas como essa são o grande questionamento da humanidade. E quando a hora dos alienígenas invadirem a Terra chegar? E quando a hora de Jesus retornar chegar? E quando a hora do Anticristo tomar o mundo chegar? E quando a hora da morte chegar? E quando a hora chegar?
     Nunca se sabe quando a hora vai chegar. Nunca se sabe quando é a hora de abrir os braços pra dizer ''bem-vindo'' ou quando os braços se fecham no abraço de ''adeus''. Talvez no interior dos nossos olhos nós só queiramos a hora do fim. A hora em que o adeus vira lembrança, a hora em que olhamos pra tudo com um sorriso sarcástico dizendo ''é, vida..'' Não é? Mas é claro que é. Nesse diálogo de eu comigo mesmo não há por que haver discordância. E quando a hora do fim chegar? Chegará o luto reconfortante pelos tormentos, pelas dores de cabeça, pelas noite mal dormidas, os sonos perturbados.
      Às vezes o que se quer não é estar milhas de distância, só se quer estar envolto os braços certos, na respiração compassada que diz aquilo que não se ouve, só se entende. Cada um sabe o abraço que lhe cabe. Alguns o chamam de ponto fraco, não seria esse um ponto de força? Onde se encontra a necessidade de continuar vivendo em prol de um sentimento? Não importa quem souber quem lhe enfraquece, quem lhe faz tremer as pernas, um dia esse ponto será usado contra - a necessidade dos homens pelo poder é maior que a sua carga valorativa. Manter alguém refém engrandece a alma dos sedentos pelo poder, mas nem sempre poder é comando, às vezes poder é cessão.
     E quando a hora chegar de estar lá? E quando chegar a hora em que tudo ficará às claras e eu entenderei minha missão nessa vida? E quando a hora chegar e eu tiver que abrir mão aqui pra segurar ali? E quando chegar a hora em que estarei atado pelo amor alheio? E quando a hora chegar e o poder for meu de ceder aos comandos alheios? E quando chegar a hora de alguém ceder aos meus comandos? E quando a hora chegar? Eu nunca vou saber, eu só vou saber.