Barco à Deriva.

16:44:00

Não é que eu não me importe no dia a dia. Não é que eu não ame também. É que eu prefiro não pensar. Não refletir. Não fabular. Não sonhar.

Não é que eu esteja me tornando frio, é que o intemperismo tem me feito iceberg ante as leis naturais do aquecimento global. Eu estou congelando aos poucos. Com o olhar sem brilho e daltônico, enxergo as expressões mais coloridas do dia a dia como se fossem todas nuances de cinza e preto.

Eu estou escolhendo sempre o caminho mais fácil. Me desligar aos poucos dos laços que me detém, me fechar rapidamente quando tentam adentrar e guardar para mim (e meu terapeuta) todas as frustrações do dia. Independente das consequências que isso causa, independente de como eu me sinta, às vezes, quando vejo as fotos do passado decorando minha parede...eu escolhi desligar.

Paro e olho pro teto durante horas. Enxergo no branco as figuras em cores, as formas arredondadas, os olhares menos sisudos. Em momentos assim, conectado comigo mesmo, me distancio da realidade a muitos quilômetros por hora, sem desejo de voltar para essa Terra. Eu escrevo num diário vermelho as frustrações mais íntimas, mais doloridas e não esqueço, entretanto, de lembrá-las todos os dias. Arranhões, cicatrizes, tudo me remete ao confinamento da memória. Eu e o passado. O passado e eu. Refletindo o quão duro fomos um com o outro, o quão difícil foi nos lapidarmos para chegarmos ao presente e, sobretudo, o quão importante somos um ao outro.

Pensamentos jogados num blog qualquer, eu me sinto mais leve para dizer adeus todas as vezes que caminho em direção à rodoviária, todas as vezes que pego um metrô pra uma estação cada vez mais longe. Talvez meu destino, amásio, é não ter laços, fortes e alicerces - talvez eu tenha como sina viver livre sempre me prender e me prender, em poemas mal escritos, tendo de ser livre.

Não é que eu não me importe com você no meu dia a dia. Não é que não ame você, também, a meu modo. Mas é que eu não posso me prender, de novo, ao que ainda cicatriza. Duas ranhuras mal cicatrizadas. Uma vida inteira pra esquecer.

Barco à deriva.

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