Desencontrar-se onde já se encontrou. Perder-se no caminho pelo medo do fronte de guerra. Cansado, fatigado, exausto. Palavras, frases, conversas. Cada dia mais pesado que o anterior. Desejo de retornar, recomeçar, ressonhar. Voltar, seria derrota? Ou voltar seria reconectar-se? Apear os medos. Apear as injúrias. Doença crônica, apequena o coração, desfaz os versos e torna o dia a dia cansativo, suplicoso. Cansar de perdoar pela essência não ser a essência que eu gostaria que fosse. Abrir as celas sem que os presos sigam o caminho. Cansaço. Asco. Fadiga. Eu, me procurando por aí. Desencaixe crônico de parafusos que já se espanaram, já se acabaram. Fim? Ou recomeço?
Em julho deste ano, a Associação dos Magistrados Brasileiros lançou
uma nova campanha de publicidade denominada ‘’#SOMOSTODOSJUÍZES’’.
(Disponível no site da Associação dos
Magistrados Brasileiros)
O que choca, entretanto, não é o mau gosto pelo slogan
escolhido, mas primeiro – uma campanha de publicidade para os magistrados do
Brasil e, segundo, a tentativa pífia deste alto clero da sociedade brasileira
de tentar se aproximar da população comparando-se a nós, meros mortais longe da
justiça.
Estamos há abismos de sermos todos juízes a começar pelo
custo que geramos ao Estado brasileiro. Segundo, pela posição que temos, cada
um, na sociedade. (Compare um jovem negro, morador da Favela da Rocinha, a um
juiz.) Entretanto, essa campanha causou
problemas dentro dos próprios magistrados mais por vaidade do que por comoçã. A
Associação dos Juízes do Rio de Janeiro contestou a campanha, uma vez que crê
que ela abre espaço para que a sociedade ache que o Judiciário pratica
transgressões de todos os níveis no dia-a-dia ou presume que todos os cidadãos
cometam pequenas transgressões.
Vimos recentes casos, todavia, de transgressões por parte de
magistrados dessa própria associação que refutam esse argumento. Houve, por
exemplo, o caso do juiz que condenou a sete anos um jornaleiro que o xingou; o
magistrado que numa blitz da Lei Seca puniu a agente que afirmou que o próprio
não era deus; o juiz que estipulou indenização de R$1,00 ao diretório do
Partido dos Trabalhadores de Piracicaba que foi agredido verbalmente por um
cidadão; e tantos outros casos…
O jurista Lenio Luiz Streck, afirma que diante os abusos
cometidos pelos juízes, ser advogado de defesa no Brasil 'virou exercício de humilhação e corrida de obstáculos'.
É claro que em sociedade cometemos pequenos delitos diários que devem ser
corrigidos. O Judiciário, entretanto, que deveria ser exemplo de idoneidade num
momento em que o país está passando por uma forte crise institucional, não é.
Os poupudos salários e benefícios dos magistrados
brasileiros têm feito a conta do Judiciário ficar cada vez mais cara, como
mostra o gráfico.
Entretanto, em termos de eficiência não tem
representado nada, uma vez que o Ministério da Justiça divulgou que os
problemas do judiciário brasileiro são: morosidade, excesso de processos e
falta de acesso à justiça. Falta de acesso à justiça, frisando.
Isso indica que muito embora a Associação dos
Magistrados Brasileiros se ache tão próxima a nós, a ponto de nos comparar a
eles próprios, nós estamos bem distantes. Nós nem conseguimos acessar seus
serviços pagos a R$ 387,00 anuais por brasileiro.
Rui Barbosa foi
categórico ao afirmar: ‘’A pior ditadura é a do Judiciário. Contra ela não há a
quem recorrer``. Nós não #SOMOSTODOSJUIZES, mas precisamos falar deles!
(Disponível em <
http://www.caldeiraopolitico.com.br/imgs/materia/27399_a_gr.jpg>)
Tempinhos atrás escrevi aqui sobre o desejo incontrolável de voltar à infância e dormir no aconchego dos meus pais.
Aquelas noites, principalmente aos domingos, em que eu me desesperava depor ansiedade, nada eram se comparadas com as noites de hoje. Relatórios, trabalhos, compromissos, coisas pra fazer e muitas outras para postergar, uma vida pra organizar, um armário bagunçado, a despensa vazio e o coração aflito.
Aflito.
Como um pêndulo entre picos de satisfação e insatisfação, tenho visto tudo se manifestando de acordo com as minhas insatisfações. O trabalho que se tornou rotina e em nada tem a ver com o menino que queria ser Senador da República. A universidade que de tão intensa não passa mais. O apartamento de 54 metros quadrados que, antes aconchego, hoje é desespero.
Eu me lembro como se fosse ontem quando, sentado no centro de uma mesa de plenária na Câmara Municipal de São Paulo, vestindo uma camiseta rosa e sem barba, rodeado de amigos, disse eloquente pra turma: Eu sou o Philippe e eu quero ser Senador!
Em que ponto os sonhos se transformam em utopias? Parecia fácil, parecia tátil, parecia simples. E tudo foi se complicando, se aterrando em meio a livros, discursos desmotivados e perguntas capciosas que fizeram com que eu mesmo, autor, sustentáculo principal e articulista da minha vida, começasse a vivê-la tão morna quanto nunca quis.
Hoje, descabido e sem lugar, eu me pergunto - Quando meu sonho de ser Senador se perdeu?
Philippe Gama. Vinte e poucos anos. Bacharel em Gestão de Políticas Públicas Professor de redação. Poeta. Escritor. Filho. Irmão mais velho. Uma criança perdida no mundo. Não sei como a vida é ou que ela quer de mim, mas quando o calo aperta, é aqui que eu venho escrever.