Caderno Técnico de Resiliência

12:45:00

Para Philippe Gama.
Importe-se, sim! Sem medo de demonstrar, de chorar, de sofrer. Sem medo de passar um sábado à noite assistindo um drama comovente pensando nos braços que não estão ali para te abraçar, se importe o tanto quanto puder. No limite, esse enxurrada de sentimentos vai passar, vai devastar tudo de uma vez e é desse ponto que você sai: com nada, sem nada, plenamente devastado.

Quando os olhos dizem, a alma está gritando. É melhor abrir a boca uma, duas, três vezes e gritar - mesmo que o grito hoje seja uma mensagem no whatsapp. E o silêncio que pode vir dela, (e no meu caso é provável que virá), será o suficiente pra reconfortar, pra saber que não sendo daquela vez, como não foram das outras tantas vezes passadas, alguma hora vai ser e se não for, um dia esse dia se torna uma história na mesa de um bar e vai ser impossível não chorar de rir com elas no futuro.

Nos prendemos em lugares dos quais não podemos sair porque não encontramos nossas próprias chaves e a cura para os males da floresta vem de dentro da própria floresta. Dói um, dois, três dias...uma semana nos casos mais graves, mas a gente se reencontra e encontra outras pessoas, outras músicas, outros sonhos. O casamento que a gente imaginou se refaz atendendo ao novo perfil do noivo e sua família, o apartamento se redecora e a gente redesenha a vida que vai levar pelos próximos anos porque é possível, ainda que num mundo intangível, redesenhar tudo a partir do agora.

Resiliência não é ser forte, esquecer, deixar pra trás. É ver aquela vez que não deu certo como um ensino  - agora não compro mais flores -, é encarar aquele silêncio que a gente justificava como falta de tempo como real falta de interesse - não quer? então tá bom -, e ver que as pessoas que passam por nós também levam alguma lição - não foi comigo, tinha que ser com alguém com um encaixe mais perfeito; E é assim que a gente vai se refazendo de tantas cabeçadas nas portas.

Se demite, muda de casa, apaga nomes da lista de contatos, faz um corte de cabelo ousado, tira a barba, coloca um piercing, faz uma tatuagem...são tantas as formas de tentar mudar o exterior que a gente deixa uma brecha para o interior se refazer sozinho, se reconstruir, e nossos rios que enxurraram nossa terra, acabam encontrando um curso novo. Resiliência é se reconhecer tão misterioso, tão tenebroso e tão intocado quanto uma floresta - e a nossa cura está ao lado do nosso mal: dá pra mandar mensagem, ficar no vácuo e rir disso depois. Afinal, pra que inventaram a mesa e a cerveja?

Cada um sabe como é seu caminho, seu reencontro. Não tem fórmula pra quem vive dando cabeçadas por aí sem medo de sonhar.


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