Apareceu na rede social ali do lado uma lembrança do 43 C, o primeiro apartamento que morei em São Paulo.

Era um apartamento desses ''modernos'' mas de muitíssimo mal gosto. Móveis gigantes para o espaço pequeno, uma porta pintada de verde-bandeira e salmão, teto amarelo, paredes rosas, portas verdes. Um horror.

Naquela época eu era recém chegado à cidade, tinha poucos amigos que vez ou outra iam lá tomar um lanche antes das aulas da DP de Tratamento de Dados ou pra almoçarmos num fim de semestre, meu quarto era sempre uma bagunça, ali tomei meu primeiro porre, chorei no banho e inegavelmente fui feliz dadas as devidas proporções.

De lá até hoje eu passei por vários lugares. Morei num dos apartamentos que conseguia ver através daquela sacada, morei no bairro nobre da frente, voltei pro interior, voltei pra São Paulo e hoje eu tenho meu próprio ambiente.

Tantas indas e vindas me reforçam a ideia de que mesmo com tantos problemas, mesmo com tantas voltas, em algum momento nós encontramos o nosso lugar.

O mercado imobiliário é só uma das metáforas que eu gosto de utilizar para a vida.

Ser humano e viver em São Paulo é uma ousadia. Pessoas mal educadas, ofício massante, caminhos esquisitos, a vida é uma loucura só. Estava no parque, agora há pouco. Em seis meses eu vivi uma montanha russa dentro do Bairro da Aclimação. Foram muitas mudanças dentro de uma só, mas finalmente eu resolvi minhas rusgas imobiliárias, tenho meu espaço, meus móveis, minha organização um pouco exagerada e o meu lugar preferido para estar.

No parque, sentado à beira daquele lago de lodo, entrego meus caminhos ao pôr do sol escondido lá atrás das nuvens. Sinto o vento frio arrepiando minhas pernas de bermudas. Sinto falta daquele perfume.

A vida é como o mercado imobiliário, tudo depende da localização. Achei que estava na zona central, era só periferia.

Metáfora de nós, o sol está em leão. Tudo vai se ajeitar. Entrego.