Egoísmo

10:14:00

Você partiu meu coração.

Quando deixou morrer as flores que eu te dei e tirou o pouco da esperança que havia em mim. Você me quebrou com o silêncio, quando deveríamos tê-lo somente rompido. Você me deixou em pedaços e eu não os consegui juntar e colar. Você tirou a liga que unia o que havia de bom em mim.

Me deixou responsável pelo desabamento e pela reconstrução, levando todas as minhas ferramentas.

Eu segui e sigo como um trem em linha reta, com curvas suaves e um desespero que coloca minha cabeça à frente do corpo como se estivesse fugindo. E talvez depois de tanto tempo, eu realmente continue fugindo de nós e em mudança constantemente de estação.

Qualquer outro passageiro que apareça, no entanto, não foge às minhas comparações com você. Qualquer beijo que eu sinta, me lembra o seu. Qualquer perfume que me encante e desperte minha rinite, me lembra o seu. Qualquer andar torto me lembra o seu. Nas dualidades que essas lembranças me despertam, são sempre dois sentimentos, duas perspectivas, dois lados da história, duas lágrimas no rosto.

Senti sua falta esses dias. E não era nem porque eu estava só, mas porque talvez eu só quisesse você aqui comigo. Não faltava ninguém, mas faltava você. Passou rápido. E naqueles poucos minutos eu entendi porque não fazia sentido olhar para essa ausência: você nunca esteve e nunca foi. Tão sozinho quanto naquela tarde, passei a observar a mim mesmo, e entre estar comigo mesmo ou me partilhar com você, me desculpe, eu aprendi a ser egoísta.

Não significa, no entanto, que não haja uma centrifugação no meu peito que coloca à fora todos os sentimentos e saudades que sinto sempre que eu me lembre ou escreva sobre nós. Não! Mas significa que de alguma forma, minha locomotiva segue em frente, ainda que com grandes retrovisores. Isso não impede que eu me sente, vez ou outra, junto a novos passageiros para correr o trecho mais rápido, mas como já disse, é inevitável a comparação.

Eles não são como você. Não me olham como você. Não me julgam como você. Não riem torto como você. Não fazem brilhar meus olhos como você. Não me encorajam a romper a timidez como você encorajava. Não me dão vontade de enviar flores como você me dava. Não me despertam vontade de amar profundamente e honestamente como amei você. E no fundo, no fundo, é por isso que eles talvez sejam melhores do que você. Eles não são você. São melhores, bem melhores. 

E entre não me ferir a me dispor a amar de novo, não há comparação na escolha: dessa vez eu escolhi ser egoísta. Eu escolhi ser como você.

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