Poucas Palavras

19:53:00

 Queria passar aquelas horas jogado no sofá contando o que mudou e o que se passou.

O cachorro sobe no sofá e não raro também dorme na cama, mas aos meus pés. O mestrado realmente não foi adiante e meu novo trabalho é exatamente como eu precisava que fosse. Ainda não troquei o colchão, nem o sofá e nem a geladeira, mas é questão de tempo.

Aquela dívida ainda segue em aberto, mas não é maior do que os débitos do meu coração.

Reorganizei alguns planos e revi algumas trilhas. A política não resultou no que eu planejava, mas gerou outros frutos tão positivos quanto. Falhei em algumas coisas mas em nenhuma delas falhei com o meu ego e meu orgulho. Deveria me sentir vitorioso por isso mas não é uma vitória quando se celebra só.

Mandei muita coisa embora. Troquei móveis de lugar. Aprendi receitas novas. Fiz novos (e sinceros) amigos. Troquei de esporte. Comprei uma bicicleta.

Aquela amiga que casou está divorciando depois de quase adotar uma criança. Aquela outra agora namora. Aquele outro eu já nem sei mais a quantas anda. E no mais todos andam na mesma e, no limite do razoável, muito bem.

É a vida acontecendo e se reinventando todos os dias. Agora, aqui nesta noite de sábado depois de algumas cervejas e pastéis na rua 25, olho para o teto pensando em todas as outras possibilidades que se desenham a partir de hoje.

Mudar de casa ou de cidade. Mudar de cidade ou de país. Mudar de emprego ou de profissão. Enfim. Parece que agora minha obsessão está na mudança mas não sinto que seja ruim. Como disse, sigo com débitos dentro de mim que preciso saldar em algum momento.

(Como eu gostaria de contar tudo isso enquanto o cigarro rola pelo ar da sala e a cada tragada sinto a gratidão de viver naqueles segundos)! Mas já não sou o mesmo que deixa a casa impecável, comida preparada e um bolo pronto. Assim como eu mudei, voce também deve ter mudado.

Pouco ou muito, é a ação que importa ao verbo. Lamento, seco uma lágrima ou outra que escorre de saudade, mas por não ser mais o mesmo tenho de seguir.

Com a casca mais grossa e o coração mais frágil, só há um sentido. E aqui, com saudade e me despedindo pela zilhonésima vez, desligo o celular, viro de lado e durmo.

Amanhã é outro dia e sempre o será. Mas eu precisava, antes de tudo, contar o que já aconteceu enquanto me restam algumas palavras e de alguma forma, repetitivo, gasto as que me restam.

Amanhã é outro dia, haverá menos delas. Ainda bem. 

Poucas palavras. Menos nós.

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