Sobre nós, batatas.

17:13:00

Há vinte dias eu tenho pensado como eu começaria a escrever sobre nós e com quais palavras, didaticamente pré-selecionadas, eu colocaria nossa história debruçada num texto. E a verdade é que nunca poderei começar a escrever sobre algo que eu não sei absolutamente nada sem que haja várias perguntas e poucas respostas. E para encher uma lauda de interrogações, eu prefiro não escrever.

Não dá pra começar a escrever sobre algo que nem terminou e deixou reticências que se arrastam por todos os dias. Por onde começar sem saber se de fato terminou? Eu poderia tentar esquecer tudo o que passou e me prender às lembranças mais doces e felizes que tivemos, e deitado sobre nossas fotos estaria completo em saber que você está comigo em espírito. Mas a verdade é que nos ferimos muito e eu preferi me auto flagelar para não tocar na sua pele tão frágil. Meu coração é um frangalho desde que você se foi.

Eu não posso colocar uma pedra e recomeçar tendo em mim resquícios do que fomos, e esse é um dos meus piores defeitos. Eu gostaria de te abraçar bem forte, também, e não permitir que você saísse de perto de mim nunca mais. Mas seria egoísta demais. Eu gostaria de fazer tudo o que tivesse dentro e fora do meu alcance nas noites frias de sábado que não temos nada pra fazer senão refletir, (ao menos eu), sobre as desgraças da vida. Mas seria excêntrico demais. Eu gostaria de ter uma casa na árvore onde pudéssemos nos refugiar e compartilhar nossos melhores e piores segredos. Mas seria alto demais.

Tudo seria, poderia, faria...Nada é concreto como você, nada é real, tudo está perdido num plano metafísico que eu alimento todos os dias com as divagações que tenho sobre nós. Parece até que pode ser realidade, parece até que pode ser fatídico, parece até que pode ser. Do meu ponto de vista vai ser sempre assim. Mas no fundo, bem lá no cantinho onde a vassoura não chega quando limpamos, algo me diz que você só sente dó de mim por saber o quão afetuoso eu sou num mundo sem afeto, e também me odeia por isso e outros zil motivos, mas gostaria de estar perto apenas pra se certificar de que eu não me machuquei demais. Era bom ter você por perto em dias assim. 

Há três meses atrás alguém teve que ir embora e não pode ficar. Há uns dez meses atrás você ficou parado em algum lugar enquanto eu decidi partir. Eu estou órfão dos meus amores. Eu não sei escrever sobre nós, eu só sei imaginar o quão bom seria se você voltasse pra nunca mais partir. E o quão feliz, aquele que partiu precocemente, ficaria em saber que eu consegui pôr brilho nos meus olhos de novo. 

Das minhas batatas, você é a mais podre e a mais saborosa.

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