Sobre ter parado de escrever poesias.
18:30:00
Revisitando o passado, notei que poetizei menos e cada estrofe que me neguei a compor se tornou um momento marcado pelas fotografias da memória.
Deixei de criar e recriar momentos perfeitos e transpô-los em estrofes conduzidas pela emoção e pouco transparentes, pouco verdadeiras. Tenho completado as faltas que sinto em mim reorganizando minhas energias e meus sentimentos, realocando nos pequenos espaços e lacunas internas os excessos de outros momentos. Não tenho tido mais tempo para escrever poesia - estou ocupado demais sendo poesia.
Os amores passados que, vez ou outra, me visitam após uma leve embriaguez de cerveja, passam pra fazer as mesmas perguntas e conversar sobre os mesmos assuntos... Monótonos demais. As respostas, já prontas, são dadas rapidamente e me viro a fim de não encontrar os mesmos olhos que tanto me capturaram dos momentos que agora vivo.
É agonizante pensar que esse trade-off em nada me causa mal. Não sinto que me torno vazio ou sem propósito no campo dos sentimentos. E deveria me sentir culpado por viver mais? Por experienciar mais? Por me desgastar e reconstruir mais vezes? Não. Eu não sou culpado. Meu álibi já não é mais poesia - sou eu mesmo. De tanto viver, esqueço de escrever e dizer que sou imortal e inatingível é farsa: eu choro, fico triste e careço de muita coisa - mas eu não sou só isso.
Da última vez que tomei um rumo tão importante na vida, terminei um blog. Antes dele, um tumblr e outro blog. Dessa vez não vou colocar pontos finais que, de maneira hipócrita, se tornam reticências. Há poesia em mim, nunca deixará de haver, mas não há somente poesia.
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