Drummond viu o homem chorar.
19:03:00
A poesia fugiu de mim. As esperanças estão miúdas com esse inverno. O relógio cuco parou. O chá esfriou na caneca grafada com meu nome. Não sobrou nada além do pijama, os livros e os seriados.
Quando Drummond escreveu sobre ter visto ''o homem chorar'' porque ''três letras'' lhes foram roubadas, se referia a Brizola e o triste episódio com o PTB. Hoje Drummond choraria vendo que me foram roubadas as palavras, e se não no sentido morfológico, no sentido sensorial. As palavras que não são o que dizem, mas o que querem dizer.
Os dias estão vazios, cansativos, parados. Não há com quem compartilhar, dividir, somar. Todas as noites são sonhadas de tal maneira que parecem realidade. Mas na realidade, aqui, onde as coisas são objetivas, não há nada.

Pela manhã, para além do gosto amargo na boca e das lágrimas secas escorrendo no canto dos olhos, somente a geada indo embora para o sol renascer, ainda que tardiamente.
Não há partilha, convivium, não há mesa bem posta, jantar preparado com verdade, com amor, vinhos secos que somente desaguam amor, não há. Todos os dias os mesmos lamúrios nos mesmos cantos sem resolução alguma. Sem valor, sem expectativa natural, somente as criadas, cá estou novamente...no Enfeite do Meu Ser.
Onde partilho, onde somo, onde multiplico, onde sou e onde deixo de ser. Aqui onde escrevo, reescrevo e faço reflexões sempre que meu peito apertado decide transbordar em palavras. Se mal colocadas, não sei, se bem pensadas, tampouco. Aqui, onde escrevo, é onde o homem chora quando os sentidos, os sentimentos, os valores, lhes são tirados.
A poesia fugiu de mim. Drummond vê o homem chorar, não pela sigla, mas pelas definições. Eu vi o homem chorar porque lhe foi roubado seu direito. Eu vi o homem chorar porque agora, em tempos de pouca flora, cansou de acreditar.
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