Recordos azedos;

12:35:00

Tá tudo meio esquisito, meio azedo. Não sei se foi a mudança de horário, a noite mal dormida ou a entrada de Vênus no horóscopo.

Tá tudo meio azedo.

Ontem encontrei alguns recordos, folhas de caderno escritas durante as aulas massantes das manhãs de verão. Entre ideias e discursos, sonhos e incertezas, estavam lá palavras direcionadas àqueles que se foram sem se despedir, talvez porque nunca tivessem chegado aqui.

São várias despedidas assim, naturais, que ficam registradas em palavras perdidas por aí ou por aqui. Versinhos, nomes inteiros, votos matrimoniais e até discursos de posse que agradecem o zelo, o desprendimento e a compreensão.

E com zelo, desprendimento e compreensão, tenho encontrado esses recordos e colocando-os um a um na sacola amassada do supermercado do bairro, me despeço. Com a paz de quem viveu, sofreu e encerrou um, dois, três ciclos. 

Tá tudo meio azedo nessa tarde fria de outubro. Outubro deveria ser outono, combinaria mais com a rima e com o dia de hoje.

Tantas coisas passadas, tantas coisas ainda virão. 

Entre o pretérito e o porvir, as palavras permanecem até serem encontradas. Ontem eu encontrei alguns recordos e hoje o dia amanheceu morno. 

You Might Also Like

0 comentários

Subscribe