Botões

06:37:00

Eu me peguei embebecido na água salgada que escorre dos olhos mais uma vez. Olhando da janela grande da sala, notei que ainda permaneço no alto do terceiro andar. Parece que nunca mais voltarei ao décimo sétimo.

Olhando dali, a mesma vista pra uma calçada triste onde as pessoas estão voltando do trabalho. Aparentemente nada mudou e essa âncora me preocupa.

Eu olho panoramicamente e minha vida tem tomado caminhos esquisitos. Alguns perfeitos e totalmente satisfatórios. Outros complicados, tensos. Estou perdido pelos bairros e não sei o que fazer.

Eu abro os meus olhos inúmeras vezes na tentativa de fazê-los enxergar e refletir a imagem real das coisas. Tudo parece um buraco negro. Percebo, tensionando as mãos na fronte, que permaneço do mesmo jeito. Desaguando sem ter para onde escoar.

Deixei de ser poesia há muito tempo.

Gostaria de fugir desse lugar comum. E sempre que eu tento fugir me pego observando as formas. As luzes refletindo a pele branca, os poros abertos pelo calor. A bebida na mesa, como meus olhos ontem pela noite, sua e se espalha. Essa imagem faz um loop infinito sempre que fecho os olhos.

Há momentos em que nem a conjuntura astrológica serve de explicação. Meu coração é uma prisão sem chaves. E me sinto um satélite, eternamente condenado a orbitar em volta dessa situação. 

Que desespero. Justo hoje, que eu deveria vestir meu melhor sorriso, os botões se descosturaram...

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