Digressão

17:03:00

Sexta-feira eu abri uma vodca e tomei quase metade sozinho saciando uma sede que eu segurei por tempos, um tentativa de afogar - como num tsunami - tudo o que resiste a sobreviver no meu interior. Um desejo inexplicável de descolar o cérebro da realidade, dos problemas e entrar num transe, quase daime, por algum tempo.

Horas depois eu vivi a revolução do fígado. Todos os órgãos se comprimindo e regurgitando toda aquela bebida barata - e sem vergonha - que eu tomei.

Acho incrível como o corpo se adapta ao que agente costuma viver. Há tempos eu não tomava um porre desses e há tempos eu não vivia as etapas posteriores ao porre. A dor de cabeça, a culpa, o sentimento de ''pra que?''. Perguntas que enfeitam as paredes dos meus metros quadrados.

Estou todo nostálgico.

Hoje cozinhando e ''passando a vassoura'' na casa, lembrei do tempo em que eu fazia isso com brilho nos olhos. ''Eu preciso postar uma foto dessa comida pra ele ver que eu sou ótimo na cozinha.'' As comidas se tornaram triviais, assim como os sentimentos. Na vida da gente as coisas têm a dimensão que nós permitimos.

Li um livro que dizia, num capítulo inteiro, a mesma coisa: escolha quais serão seus sofrimentos. Tenho internalizado isso e escolhido, por vezes, sofrer por coisas mais banais e resolvíveis - assim eu tenho, ao mesmo tempo, o prazer de sofrer e o prazer de solucionar. Já nem penso tantas vezes assim em ir acompanhado ao bistrô que tem aqui ao lado, já mudei os planos para fazer outros tipos de sobremesa e sequer tenho aquela montagem tosca que fiz de nós no verão passado.

Não é que eu tenha parado de tentar. Mas tentar, somente, não é o suficiente. E essa rima me reforça isso. Hoje foi um domingo como qualquer outro, mas eu resolvi fazer as coisas pra mim. Isso é tudo o que eu posso fazer pra soltar esses nós.

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