Pisciano em Camadas

18:04:00

Três cigarros e uma mini dose de cachaça mineira depois, consigo escrever depois de ter chorado copiosamente. Maremotos saíram dos meus olhos enquanto meu coração se esvaziava. A vida cobra caro por tudo. Tenho tido alguns momentos complicados em minha vida, como todo ser humano, e este ano ainda não havia aberto as compotas pra chorar, pra tirar um dia todo de auto cuidado.

Academia, alimentação, máscara facial, a série que eu gosto, uma playlist relaxante, um cigarro, porque não!?

Abrindo alguns aplicativos tenho visto nitidamente porque cada vez mais me interesso menos pelos homens. Todos na superfície e eu, pisciano, querendo mergulhar, explorar, conhecer.

Com uma vontade desconexa de sair por aí desbravando o mundo, o máximo que posso fazer é dar voltas pela Aclimação com um pouco de sensação de segurança. Venho cumprindo minha rotina de oito mil passos religiosamente, caminhando tentando fugir de uma das mil camadas dessa cebola que a vida formou.

A camada do trabalho. A camada da rede social. A camada política. A camada familiar. A camada religiosa. A camada silenciosa. A camada pisciana. A camada íntima.

A cada momento em que vou me despindo, fico mais vulnerável. Nessa vulnerabilidade encontro mais perguntas do que respostas, mais angústias do que conforto. Mas viver não é isso? Buscar por conforto e respostas dentro de nós mesmos?

Que coisa louca tem sido viver. Escrevendo cada vez menos, me distancio da camada que um dia sonhou em lançar livros, dar entrevistas e ficar famoso por isso. Aceitando cada vez mais o papel de coadjuvante, tenho me distanciado desse sonho como de tantos outros.

Passo pela José Getúlio, vira na Aclimação, atravesso no Hirota...sempre a mesma rotina, o mesmo caminho, as mesmas pessoas. A babá, a mãe e a criança. O frentista do posto olhando disfarçadamente como é o carro importado por dentro. A academia com as mesmas donas de casa, os mesmos caras cansados e frustrados tentando encontrar no corpo alguma satisfação. Malha que vem.

O apartamento que outrora era pequeno, volta a ficar grande. Abaixo minha cabeça na mesa, assopro as velas, ouço Enya. Deságuo.

Muitas ideias explosivas numa mente que só quer paz. Dia após dia pensando. Dia após dia sonhando. Escrevo e volto a expandir, volto a flutuar. Escrevo e volto a me ocupar comigo mesmo, com meus pensamentos, com os mil-eus que vivem nessa matéria. Busco olhos escuros e cabelos compridos, busco empregos satisfatórios e que desafiem, busco finanças que me despreocupem, busco aventuras que me rendam boas histórias. 

Busco argumentos para explicar este pisciano em camadas. As mais profundas - como as explicarei?


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