Eleição

15:33:00

Mesmo cheio de dúvidas, inseguranças e incertezas, eu já te escolhi.

Eu já te escolhi para viver aquilo que eu sussurrei ao Universo depois de me cansar de gritar. Escolhi para o almoço de domingo e o jantar de sábado à noite. Escolhi para os meus palanques e meus projetos. Escolhi para estar nos seus palanques e nos seus projetos.

Olhei muitos textos que estão juntando poeira nesse blog. Alguns sequer foram publicados de tão ruim que são - seja em sentido concreto, seja em sentido abstrato. Mas todos eles são cortados e escritos por um nó que não se desfazia, um nó que apertava a garganta, o peito e prendia o caminho - um nó que nunca foi sobre nós mas sobre mim.

Quando sussurrei ao Universo e ele resolveu me responder, compreendi como essa troca funciona. Olhando para trás e lendo alguns textos passados, entendo perfeitamente os processos e caminhos pelos quais passei e que hoje me dão a certeza dessa escolha. 

Pelo primeiro sorriso que vi. Pela conversa sobre livros, séries e filmes. Por querer viver uma comédia romântica com final feliz. Também, claro, pelos culotes, o cabelo escuro, os ombros largos e o olhar profundo - que tento traduzir e, sem saber o seu idioma, continuo sem compreendê-lo. 

E mesmo assim, sem falar o idoma dos teus olhos, eu já te escolhi.

Pelo respeito que me é destinado. Pela forma como me sinto cuidado. Pela segurança que faz um tenso natural, como eu, descansar em qualquer lugar. 

Ainda que com dúvidas, ainda que com incertezas, ainda que com perguntas (muitas): eu já te escolhi.

Poucas vezes o Universo foi tão generoso com um ser humano. Há pouco mais de um ano, eu e meus textos éramos outros: desespero, angústia e ansiedade eram a tônica de narrativas sem perspectiva de fim.

Com a casa arrumada, a mente organizada e os projetos pessoais acontecendo e seguindo como nunca antes, apareceu aquele sorriso que me tirou a única certeza que eu tinha: que eu não queria escolher mais ninguém. 

E talvez por isso eu tenha feito essa escolha: ela não foi uma escolha de fato, foi uma imposição do Universo. Sussurrei e me responderam com um grito. 

Todo mundo sempre soube como sou apegado à detalhes, às palavras, às formas e ao jeito de construir um texto. Produzir escrita sempre foi uma atividade em que meu egoísmo imperou. Mas veja só que paradoxo: ao contrário dos textos empoeirados na estante, esse termina com uma certeza (e também muita esperança). Por ter mudado a minha narrativa, eu mantenho as dúvidas no bolso e me apego à uma certeza: Eu já te escolhi.

E ironizando minhas escolhas particulares e de vida, talvez a minha ânsia de montar um palanque tenha sido resolvida - precisei escrever textos e mais textos ruins, percorrer alguns caminhos, transformar substantivos em verbos e montar um grande palanque para uma eleição que não é bem uma escolha, é um caminho natural entre a barbárie do eu e dos nós e a liberdade da certeza que me faz dizer: Eu te escolhi.






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