Boa sorte

05:06:00

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Nos últimos dias busquei os porquês. Tentei compreender onde houve falha. E segurei a ansiedade para não deixar a saudade vazar mais pelos olhos. Represei o impulso. Escrevi em papel e queimei. Joguei para o universo. Rezei a todas as fés.

Eu errei.

Errei quando ofereci o que havia de melhor a ser oferecido. Errei quando troquei os lençóis ao invés de improvisar uma cama em um canto qualquer. Errei quando fui honesto e recebi silêncio. Errei quando fui vulnerável. Errei quando abri as portas do meu silêncio. Errei quando estive presente. Errei quando acreditei na sua personagem.

E mesmo assim me perdoo.

Me perdoo por ter sido honesto, vulnerável, disponível e sincero. Me perdoo porque embora tenha passado por inúmeros problemas, segurei as rédeas da segurança e preservei um pedaço importante de mim. Me perdoo porque deixei o coração ir além da razão e ao invés de focar nos arrependimentos, busco olhar para o que posso agradecer.

E meu auto-perdão tem um lugar gigante e não precisa das tranqueiras da caixa lá fora. 

Uma caixa meio desengonçada com um papelão desgastado e sem muita estrutura mas que carrega os livros, os filmes e tantas outras coisas que vieram ocupar um espaço que eu abri. Estão lá fora os poemas, os bilhetes, as cartas, os mimos e o que de melhor havia em mim e eu pus à mesa.

A caixa está lá fora com os sonhos, os planos e os desejos que construímos meio a meio: meio verdade e meio mentira num personagem que não se sustentou. Meio segurança e meio fuga. Juntei ali também a lista de vezes em que acreditei no que saiu da boca pra fora mas não ardeu o coração de dois, somente o meu. Catei também algumas lembranças pelas paredes, algumas fotos ainda não reveladas e um relógio que não marca o tempo perdido, mas consegue cronometrar o tempo que passa nesse momento.

Não consegui colocar ali a falta de coragem, a insegurança, o medo e as respostas que não vieram. Não coube também o primeiro - e único- baixo em meio a tantos altos porque esse derradeiro ponto foi só um marco.

A caixa está lá fora.

 Não percebi que a mudança sempre esteve pronta. O que era importante foi levado e aqui ficaram as tralhas, as dúvidas, os porquês e os cacos que não resistiram ao falso verniz. Isso não me serve. Quem vai sempre deixa algo pra trás? Quem vai acha que pode voltar a qualquer momento só porque a recepção é honesta? Não vivo na expectativa de ser um cemitério de boas intenções. Minha casa - e quem a tem sabe disso - só tem espaço para o que de fato serve. Quem sabe um dia essa compreensão lhe caiba além de um colchão. 

Agi com o coração e essa coragem (que só me coube) me fez colocar as coisas na caixa. Lá fora. Porque não deveriam ter entrado pra bagunçar tudo o que estava organizado. Mas deve ser difícil pra quem não sabe o valor das coisas no lugar e das conversas francas entender isso. Não é neura com limpeza ou organização: é cuidado com o que é meu e ninguém mais teve. E não terá a oportunidade de não ter.

A caixa está lá fora. O caminhão de lixo passa às terças-feiras por volta de 18h. Corre, tenta salvar uma tralha que é tua e jamais foi minha. Aqui só há é sempre houve espaço para o melhor - e para quem sabe reconhecê-lo. Não pra quem não sabe sequer encarar os próprios fantasmas e ri dos próprios problemas enquanto eles corroem a própria carne. 

A caixa está lá fora. Já não são problemas meus ali. Resolva-os como quiser, o arrependimento que está ali no fundo uma hora pede passagem. Ele não será meu, jamais. Que pena que nos cruzados por aí. Boa sorte! 

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