Foz

17:41:00

Com o passar do tempo, escrever tem se tornado uma atividade difícil. Todos os dias são vários e-mails, relatórios, propostas, planos, planilhas e as palavras vão sendo gastas. Quando chega a hora de escrever seja no caderno amarelo, seja no caderno azul, seja aqui....já não há muito a dizer. E parece que desde que sentei-me para escrever pela última vez, de fato não há muito a dizer.


Quando se opta por colocar os verbos em ação, não há o que dizer, somente o que mostrar. Olho para trás e em pouco tempo consegui alguns troféus para colocar na minha estante de conquistas pessoais que ninguém se importa. Não é muita coisa, mas são coisas que mais do que valiosas, mostram que a vida continua a ser o curso de um rio lento, tranquilo, mas que não para nunca. Nem mesmo quando há pedras represando as suas águas. Nem mesmo quando há corpos que tentaram mergulhar e não conseguiram. Nem mesmo quando há edificações que precisam ser levadas pela água para que se cumpra o seu propósito.

E assim, como um rio lento, tranquilo, mas de águas agitadas e nebulosas sob a superfície, tenho seguido. Conquistei posições, conquistei corpos, conquistei memórias. E de que me vale tudo isso quando olho para o horizonte e ainda encontro perguntas sem respostas? Talvez viver seja mesmo ter de lidar com algumas dúvidas e, como uma criança, compreender que algumas coisas realmente não têm resposta.

Não há respostas para todas as reviravoltas. Não há respostas sobre o porquê das conquistas. Não há respostas sobre a razão das perdas. Não há respostas sobre porque não paramos para respirar. E aquietar as dúvidas é não só um desafio, mas também uma forma de autopreservação. Se me perguntam do passado, já não tenho o que dizer e dou respostas vagas. Se me perguntam do futuro, escondo as oportunidades gloriosas que sei que estão por vir. E se me indagam sobre o presente, respondo vagamente olhando para o horizonte - e nisso reside o medo de mostrar como minhas águas estão turbulentas e perigosas sob a superfície. 

Mas tudo bem, todo rio tem seus mistérios e seus folclores. Todas as pessoas têm seus sonhos e suas razões. Todas as perguntas têm suas respostas ou suas evasões. E todo dia eu olho para o horizonte não mais em busca de outras pessoas, outras respostas, outros porquês, mas em busca de mim. Onde esse rio, enfim, tranquilamente encontrará sua foz? Essa, sem dúvida, não pode ser uma pergunta sem resposta.

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