Isqueiro Verde
16:25:00Encontrei o isqueiro verde perdido no fundo do armário.
E como uma das muitas alegorias usadas na terapia, reencontrei tudo aquilo que não quis mexer e joguei na caixa.
Não é só o isqueiro verde que acendeu tantos cigarros nos domingos à noite e alguns incensos nas segundas pela manhã. São lembranças que fui jogando numa caixa e ainda são vívidas e ardentes, tentando encontrar um espaço para a saudade. Ao contrário do isqueiro, que no lixo já não queima mais nada.
Ontem, homem, assim como outros dias, tentei colocar mais coisas numa caixa que já foi. Mas eu não consigo tirar de mim memórias e momentos em que eu estive presente em corpo, alma e espírito.
A crueldade do tempo é que ele não volta. Porque se houvesse um mínimo de delicadeza dele para conosco, eu voltaria para a cama no domingo com seu braço me puxando para ficar ali e deixaria o café para depois. Brigaria com o sono para terminar o filme. E esperaria, com ainda mais alegria, a chegada das 19h.
Choro, sinto e derramo algumas lágrimas. Percebo que ainda estão aqui as coisas que não quis enfrentar - as perguntas, as dúvidas, as inseguranças e o abandono. Respiro fundo tentando queimar tudo, mas o isqueiro não tem uma fagulha sequer - como eu gostaria também de não tê-las.
Tropecei no isqueiro e caí dentro de mim.
O isqueiro verde não foi. Assim como eu nunca fui.
Mas não como você. Que foi.
As fagulhas ficaram. E hoje me queimam.
Como dói!
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