Migalhas Aos Pássaros.

17:56:00

      Mil vozes me dizem o que fazer, quando, na verdade, nem elas sabem se fazem o certo. É complicado viver — essa tem sido minha maior certeza, e conviver com ela dia a dia pode ser por um lado torturante e por outro lado uma forma de aprender, sabe-se lá com qual professor, que tudo é difícil, desde a matemática até a geografia. Difícil mesmo, nessa vida, é amar.
      Amar dói, rói, mata e ressuscita.
      Quantos amores a gente tem durante a vida pra tentar, num ciclo vicioso, esquecer o passado que nunca deixa de ser presente? Eis a tese que nenhum pós-doutor ainda abordou. Porque o amor não cabe aos meios acadêmicos dos ''intelectuais'', ele vive no que é simples, no que é luxuoso, no que é rico e no que é pobre. Não entende-se como esse bicho sobrevive, mas ele sempre está lá.
      Ele está lá quando a gente dança na festa da junina da escola com a menininha que a gente julga ser a mais bela do mundo, ele está com o primeiro beijo, o primeiro namorinho, a primeira paixão adolescente que nos fazer pensar em grandes ousadias que depois de um tempo se tornam pequenas. Ele vive vive dentro da nossa poesia interna, aquela que escrevemos num pedacinho de papel pra que ninguém leia e ninguém compreenda. Está, sobretudo, atrás do mar dos olhos. O mal dos olhos.
      O amor está na minha saudade, na minha solidão, na minha companhia imaginária de todos os almoços e jantares. Vive dentro do meu silêncio e acomoda-se todas as noites ao pé do meu ouvido sussurrando coisas incompreensíveis. É o bicho que foge de mim.
      Me veio agora aquela canção do Alexandre Nero, excelente cantor, que diz: ''O amor está em quem já deu/Em quem doou/Em quem doeu'' e que me transmite a intensa sensação de que muito eu já dei, muito doei e muito me doeu, agora, porque não eu merecedor dessa graça? A graça de dizer eu te amo em reciprocidade, a graça de fazer de tudo um grande evento em reciprocidade, de sorrir em reciprocidade. A graça do amor recíproco.
      Vez ou outra eu me pego querendo amar, mas é uma mera tolice deste que muito já fez pra não obter resultado nenhum, então eu junto as pontas dessa toalha de mesa e bato-a no quintal, como migalhas ao vento, porque já que eu não posso amar, que os pássaros saciem-se deste meu pouco sentimento...Ih, deu até poesia!

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