O Conto do Tempo.

15:04:00

Entre a dor e a paz, atrás de alguma montanha, nasceu o Tempo. Nunca se soube quem eram seus progenitores, alguns diziam ser a natureza, outros apontavam para os astros celestes, alguns especulavam que ele apareceu ali, do nada, por que tinha que aparecer. Ninguém nunca respondeu essa questão.

O Tempo cresceu e foi racionalizado pelos homens, dividindo a vida em dias, horas, minutos e segundos. Não houve lugar que ficasse sem adotar o regramento de que as coisas deveriam ser dividas, marcadas, compassadas, qualquer fuga da racionalidade do Tempo seria um atendado à humanidade. Já jovem, alguns poetas o colocaram em suas palavras, outros o fizeram música, alguns apenas o sentiram. Há quem percebeu que o Tempo era um viajante que não volta atrás, esses que, perdidos em seus relógios, sabiam que não conseguiriam consertar os danos que se passaram, resolveram colocar um ponto final ao seu próprio tempo. Uma ponte, uma gilete, antidepressivos, veneno...cada um quis colocar-se ao fim de uma forma única, eficaz e abrupta.  Não souberam compreender que embora o Tempo não volte atrás, ele mesmo, numa via ambígua, cria um novo começo.

Poucos sabem usar as reticências do Tempo.

Aqueles que usaram da razão para explicá-lo apenas como início, meio e fim, esqueceram da humanidade do Tempo. Olvidaram dos momentos em que ele os pegou pela mão e disse ''olha lá!''. Olha lá como o Tempo passou e como todas as feridas se fecharam. Olha lá como as coisas mudaram sempre numa curva ascendente. E foram os que creram na mudança do Tempo que nunca colocaram pontos finais em suas histórias, suas rotinas. Esses, que sonharam, que viveram as doçuras e amarguras da sua verdadeira esperança, esses sim conseguiram compreendê-lo.

Poucos se importaram com as normativas das horas, usaram dos dias apenas como parâmetro, usaram as pontes para chegar sempre aos outros lados da vida e explicaram o tempo como cura constante. Foram os que compreenderam-no como mutante, como regente, que miraram o sol mais brilhante, a lua mais reluzente, para eles a natureza se avivou mais e a vida, ainda que nos dias mais difíceis, continuou a passar em ascendência. Cada passada do Tempo, uma história nova, uma nova cura, um novo recomeço.

Quem não se importou com a origem mas com as reticências é que viu o Tempo passar como um turbilhão e se manteve como rocha. E quem escolhe a rocha como um meio de viver, firme na convicção das mudanças e das verdades, é que aceita o intemperismo: o sol, a lua, o mar, o ar e sobre todos os outros: o Tempo.

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