Gerúndios;

15:56:00

Escrevo porque preciso falar. Há diversas versões de mim mesmo precisando dizer coisas absurdas e insignificantes. Escrevo porque com medo de falar, transfiro aos textos a culpa que cabe somente a mim. Escrevo porque grito. 

Grito de medo, angústia, tristeza. Grito pra espantar as mágoas, afundar o passado e abrir caminhos. Desfolho árvores, limpo estradas, abro matas fechadas com a força de tudo o que precisa ecoar pela minha voz.

Dia desses, pra não dizer ontem, fechei-me em meu casulo mesmo no meio de tanta gente. Ali, perplexo, me questionei onde foi que iniciou-se essa série de erros em minha vida. Um dia em paz, dois em guerra, tenho lidado comigo mesmo hora após hora e principalmente com o temor e a aflição de um dia não conseguir fazê-lo.

O gerúndio já não cabe no verbo desmoronar no que tange à minha vida. Estou caído. Em pedaços. Partido. Como tantas outras vezes já o estive, como tantas outras vezes ainda estarei. Olho as caixas de entrada todos os dias esperando uma notícia boa, uma mudança, uma felicitação. Silêncio. E por isso grito - o silêncio tem sido o maior vilão que habita em mim.

Com sede de sorvete em dias frios, há uma dicotomia dentro de mim mesmo que me deixa de cabelos em pé - ou sem cabelos, melhor dizendo. Tudo o que foi planejado - o apartamento de poucos metros quadrados, o chamego no domingo à tarde, a viagem com os amigos - se desplanejou por obra cósmica ou humana. 

E só eu entendo. E me dói saber que só eu compreendo minhas dores, minhas aflições meus medos. Não posso culpar os outros, todos temos nossos problemas. Não posso culpar o mundo pelas guerras que acontecem dentro de mim mesmo. Não posso culpar outra pessoa senão eu mesmo pelos castelos de areia que construo em cima de relações, pessoas, expectativas e que, sem razão ou por natureza própria, as ondas de realidade levam pra si. 

A poesia que habitava em mim, como uma roseira de cemitério, secou. Não consigo transpor em versos a beleza dos dias porque se tornaram imensos vazios. Dia após dia sobrevivendo, vencendo a noite e acordando esperando. Tantos gerúndios que nunca se tornam ação, apenas uma imensa travessia. Nessa sala de espera só habitam duas pessoas - eu e o silêncio que tem me torturado.

Estou cansado como nunca estive. Ferido como nunca estive. Triste como nunca estive.(Talvez já o tenha anunciado em outros textos, mas sinto agora a diferença da força dessas palavras). Por coisas que só eu entendo e por caber somente a mim é que é pior - o veneno e a cura se diferem pelo tamanho de suas doses. Entretanto, tenho em mim um cansaço tão grande, tão perene que nem consigo viver o verbo que eu mesmo criei - resilienciar. 

Me calo e olho a olho encaro o meu reflexo no espelho. Como (ou quando) eu vou sair daqui?

Silêncio.

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