Merlot.

17:41:00

Estou um pouco fora de mim. Meio embriagado, ainda, pelo vinho de ontem e a vodca ruim da festa sem graça que fui. Meio cheio de planos, meio cansado, meio com preguiça de mim mesmo. Na ânsia de mudar, passei a máquina na barba -  e não gostei. Mais do que não reconhecer meu próprio rosto, eu não reconheço a mim mesmo.

É como se eu fosse Plutão, lá longe, absorto com a minha pequenez e quase desqualificado por todos os outros planetas. Longe do sol, da lua, da terra, venho vivendo em minha própria órbita. Frio e sem graça, vez ou outra alguém vem pra questionar se realmente há o que extrair desse solo. Não muito tempo atrás, fiquei mais introvertido pelas perdas que a vida me impôs. Sem saber o que fazer, quando a gente perde nos resta a coragem de tirar a máscara e chorar. Imagino que Theo e meu avô, ao se encontrarem nos outros planos, estejam concentrados em tentar me entender. Eu também estaria se pudesse sair de mim e olhar de fora o que e quem sou. Não me faz muito tempo, abri meu próprio coração pra mim mesmo. Em meio a tantas travessuras que a vida impôs, há ainda o medo daquilo que eu já desconheço tão profundamente que me apavora só de imaginar.  Arriscado demais viver pisando em ovos por saber que a qualquer momento alguém pode implodir a viga que sustenta todo o meu castelo - que é de vidro, que é frágil.

Das fragilidades todos sabem, das fortalezas talvez.  Eu sou a criança triste que a vida bateu, como afirmou Fernando Pessoa, e não sei como lidar com os hematomas - eu só quero ficar em posição fetal, chorando, até desaparecer de mim mesmo. Mas ainda assim, é preciso sempre levantar e vestir aquelas velhas e boas máscaras que têm funcionado até aqui - a de aluno interessado que está em outro plano, a de engraçado, de cozinheiro, de bom filho, de poeta, de charlatão, de Senador - pois viver, infelizmente, é ter de esconder quem você realmente é a fim de não se confrontar e não confrontar o outro, é ter de fingir, a todo e qualquer momento, que está tudo bem. No fundo, no fundo. ninguém se importa. É cada cachorro lambendo a sua própria caceta. 

Dane-se, hoje eu preciso de um Merlot. 

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