Expiação;

13:41:00

Eu me lembro das curvas, das voltas, da espessura dos fios do teu cabelo. Todos eles contando uma história sinuosa, cheia de pequenos nós, todos eles terminando leves, dançando conforme o vento. Eu me lembro das frases, eu me lembro da despedida, eu me lembro dos caminhos e dos sentidos. Eu me lembro, como se fosse ontem, de todos os detalhes, todas as palavras proferidas e aquelas que me engasgaram mas engoli por pura covardia, puro medo.

Por me lembrar tanto é que sofro e sinto tanto. Esse baú de memórias que carrego comigo é minha única preciosidade e sempre há espaço para mais e mais lembranças. Domingos como hoje me fazem lembrar dos domingos em que não passamos juntos, dos domingos em que eu abri a sua janela no chat, digitei e apaguei. Por puro medo. 

Lembro demais. Do perfume, da malha da sua camiseta, dos cabelos mais ou menos penteados, das curvas dos seus cachos, dos milímetros que separavam um dente do outro. Lembro, principalmente, das distâncias que nos separam. E me dói. É inevitável não chorar olhando pra essas lembranças espalhadas pelas minhas paredes internas, é impossível olhar pra toda essa história com início, meio e sem fim e não lamentar. Que autores incompetentes que nós fomos que sequer soubemos colocar um final infeliz.

E machuca demais saber que essa porta ficou aberta. Machuca demais olhar pra trás e não saber explicar o que aconteceu (ou não aconteceu). 

Na noite passada resolvi dormir ao invés de escrever. Resolvi ligar naquela rádio que só toca músicas românticas da década de 90 e tentar pensar em coisas boas, tentei pensar em nós e não consegui. Meu cérebro já se recusa a sonhar que nós somos uma possibilidade. Se recusa a imaginar as tardes de domingo, ou as noites de sábado, que poderíamos passar juntos. Se por um lado isso também me entristece, por outro é uma nova porta que se abre. Talvez eu esteja entrando, novamente, num processo de cura. 

Esse processo é doloroso. Os curativos ardem. As lágrimas, inevitavelmente, sempre ressurgem para colocar a dúvida - não é melhor sofrer a ferida aberta e tê-lo ainda que parasitando? Estou sentindo que pouco a pouco o sangue começa a coagular, reagir ao oxigênio e essa chaga aberta começar a se fechar. É mais uma cicatriz que se forma, é mais uma história que me marca e toma noites de sono, lágrimas e muitas palavras não ditas, apenas escritas.

Esse processo de cura é dolorido, demanda muito e ninguém compreende. Eu preciso chorar, botar pra fora, ter o meu período de expiação. Sozinho, à meia luz, eu preciso sentir e sofrer essa dor, para que eu me recorde, para que a ferida cicatrize, para que eu possa seguir em frente. 

É meu tempo de expiação. 

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