Eu fiz vinte.

16:59:00

        Durante uns anos da minha infância eu imaginava o que faria aos vinte anos. Até então o plano era morar sozinho aos dezoito, ter meu próprio apartamento, carro, vida bem sucedida e ser feliz. Mas o que era ser feliz pra um moleque de doze anos? Independência.
E que independência eu alcancei aos vinte anos? Nenhuma. Quer dizer...Quando eu fiz dezenove, ano passado, eu estava a faculdade odiando o meu ser, minha vida, a faculdade e o mundo, abri o facebook e comecei a chorar: onde estava minha mãe pra me acordar e me dar parabéns antes de todo mundo? Ela era só uma postagem dizendo o tamanho do orgulho que ela sentia de mim. E eu chorei na faculdade.
         Tempos depois descobri que não fui o primeiro e nem era o único a chorar dentro da EACH, aliás, ela é um grande muro das lamentações. Eu aprendi a conhecer pessoas com as mesmas dores, os mesmos sofrimentos, os mesmos anseios, vontades...Aprendi que o mundo é mais do que oitenta mil habitantes lorenenses e eu. Aprendi a ser 'mais um' no ônibus, no trem, no metrô, na rua, na manifestação, no nicho dos loucos-maconheiros-comunistas-da-usp. Conheci pessoas interessantíssimas com uma vivência maior do que os que já bateram no peito pra dizer que viveram de tudo nessa vida, que no final das contas é muito pequena pra se viver muito em vinte anos.
        Hoje eu estou aqui, aos vinte anos, com os velhos hábitos de comer unha e ter um blog que ninguém lê. Acho que a vida é mais ou menos isso: abandonar algumas coisas e manter outras intrínsecas e imutáveis, como o meu desejo e minha súplica aos deuses por um amor que me ame independentemente de posto social, renda, beleza, defeitos e palavras. Amar por amar. E aprendi a não insistir sozinho na construção de pontes porque quando estamos quase chegando onde queremos chegar, a empreiteira do outro lado pode derrubar tudo.
         Eu achava que com vinte anos teria uma vida que provavelmente terei somente aos trinta, (se meus planos se concretizarem), mas não morre em mim o menino que ainda sonha com tantas coisas antes de dormir, desenhando na penumbra e no teto o meu apartamento, meu carro, meu amor, meu cachorro, minha vida...e etcs. Eu fiz vinte e enquanto houver infância em meu ser eu serei assim: um sorriso abrindo luz nas minhas próprias lágrimas. Vivamos.

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