Putz, morri em São Paulo!

20:33:00

      Devo lhe dizer que a vida é curta, e essa é uma verdade que convivemos dia a dia: a espera pela morte e pela ''outra vida''. Uma culpa sem fim imposta a nós por sermos meramente humanos, e enquanto humanos, passíveis de erro. Mas se a vida por si só já é curta: a vida em São Paulo é mais curta que a ejaculação precoce que permitiu que a maioria dos seres humanos não planejados nascessem.
      Da mesma forma que os adolescentes imaginam ''Putz, gozei antes!'', quem morre em São Paulo deve pensar ''Putz, morri em São Paulo!''. Tudo em São Paulo é com pressa. Você acorda atrasado, o ônibus atrasa, alguém não anda na escada rolante, (porque acredite, ninguém espera aqueles eternos e preciosos segundos da escada rolante), alguém não amassa alguém na outra porta do metrô pra você entrar...tudo atrasa, mas a morte chega antes da hora. Você resolve ir com calma e tem uma multidão atrás de você te empurrado e dizendo com um olhar que apunhala seu pescoço: ''Anda, seu lerdo!''
      E quando você acha que chegou ao seu destino, com paz ou pressa: não. Você ainda tem um longo dia cheio de chefes chatos, tendo que dar explicações das coisas que você fez ou deixou de fazer, tendo que dar bom dia pro colega de trabalho que incrivelmente está feliz todo dia. Não existe gente feliz todos os dias em São Paulo, o dia é muito rápido pra haver o espaço da felicidade.
      Já não bastando a desgraça de ir pro trabalho ou faculdade, surge a volta, o desespero de chegar em casa a tempo de conseguir ler um livro, conversar com alguém, chorar, cantar, tomar um banho...mas como ensinam as dogmáticas igrejas: há um caminho de pedras até o céu. E o céu custa caro. Não o céu metafísico, mas o céu que você precisa honrar todos os meses com aluguéis caríssimos em lugares que chegam a ser um cubículo necessitando de reforma, de mudança, de uma boa vista senão a da bunda peluda do vizinho do outro prédio se trocando.A vida em São Paulo é apertada.
      Você morre dois anos por dia, e recupera um ou dois meses quando resolve visitar uma exposição, ir a um show, ou sentar em alguma praça ou parque. Façamos as contas: é prejuízo na certa! É angustiante saber o perigo do assalto, da morte, ou de encontrar uma cabeça ou um corpo esquartejado por aí, é angustiante e uma tortura psicológica saber que será preciso dia após dia submeter-se a enlatar-se como sardinha dentro de um transporte público ou sentar sua bunda até ter a sensação de ela estar quadrada sem sair com o carro do lugar...
      Me apresentem os argumentos que provoco, mas ao final de tudo todos saberemos: a vida em São Paulo é mais rápida que uma ejaculação precoce, quando você já se tornou espírito é um ''Putz, morri em São Paulo!'' que você solta, e aí alguém do seu lado diz: ''Vai, anda logo, reencarna ali na Zona Leste e vai trabalhar na Zona Oeste!'' e você vai acabar indo, porque não há opção pra quem quer São Paulo, pensar demora...

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