Dualidade do meu ser.
17:18:00
Segundas-feiras de outubro. Minha vida é formada por ciclos que se
encerram e se abrem em outubro, sempre foi um mês determinante, sabe-se lá por
qual motivo. Me lembro de todas as segundas-feiras desse mês em que estive
radiante ao amanhecer e pífio durante a noite. Outubro sempre foi um mês que me
quebrou por dentro de diversas formas, por diversos motivos, é que eu sou
dessas pessoas que nasceram para doar.
Sempre doei o melhor de mim: amor, carinho, amizade, afeto,
compreensão. Nunca julguei, nunca sequer apontei um erro de forma cruel, sempre
pensei minuciosamente de modo que não machucasse as pessoas e da mesma forma
expusesse as falhas e, num gesto altruísta, ajudasse a reconstruí-las. Nunca me
queixei de ser assim, pelo contrário, acredito que o mundo em que vivemos é
composto por dois tipos de pessoas: as que amam, se importam, se doam, se
machucam e são demais e as que nem se importam. Na intersecção desse grupo há
quem se importe moderadamente e quem se desligue moderadamente, esses não
entram na minha contabilização pois quem joga em dois times acaba não jogando
em nenhum.
Por ser demais eu me machuquei demais. Eu me decepcionei demais.
Construí certos dogmas ridículos, vazios, falhos e que hoje já foram quebrados.
Foi num mês de outubro que eu quase larguei tudo para ficar numa cidadela em
que as coisas não andam por comodismo em prol de certas ilusões da juventude.
Num mês de outubro eu realmente joguei tudo pro alto e cumpri tabela nas
provas, trabalhos e seminários: melhores médias. Outubro sempre rompeu meus
estereótipos.
E mais que um mimimi deste que não entrou na vida pra perder, mas
pra abrir mão quando for a decisão mais sábia, eu estou hoje procurando
palavras para descrever o meu conforto comigo mesmo, o meu orgulho de mim
mesmo. Já descrevi esses sentimentos ao meu eu de ontem, mas ainda não consegui
organizá-los para compreender. Parte de mim é feliz, estou desamarrando os meus
nós, colocando meu barco a favor do tempo, me colocando no centro do meu mundo.
Meu mundo, minhas civilizações. A outra parte se divide na dualidade da perda,
das renúncias, das coisas que temos de deixar à beira do caminho para que o
fardo se torne mais leve - e a renúncia eu aprendi desde criança. Minha vida
nunca foi abastada, sempre comedida e por isso houve renúncia, houve
aprendizado, e os momentos mais alegres que me recordo não envolveram um
centavo. Nessa dualidade eu aprendi que nada se compra financeiramente, é a
nossa alma que faz por merecer.
Ainda vejo fotos do ensino médio, do fundamental, da época do
cursinho pré-vestibular e dá saudade, mas eu não trocaria o meu hoje pelo
passado. O que eu tive de errar, já errei - e muito bem, o que eu acertei, fiz
como pude, e o que tiver de vir, bem...que venha. O mundo precisa acontecer.
Ora a gente não ouve o que precisa, ora a gente tem que dizer aquilo que
queríamos ouvir quando um transeunte se encontra na mesma situação que nós já
estivemos. Ora a gente quer estar junto, ora a gente compreende que o que nos
une não está no físico. A vida é dual, e na parede da memória essa lembrança é
o quadro que, infelizmente, dói mais.
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