Ao meu eu de ontem.

     Nós conseguimos. Finalmente chegamos onde queríamos. Eu nunca imaginei que estaria no mundo, da minha forma, do meu jeito, como estou hoje. Finalmente nós, você no passado e eu no presente, estamos no mesmo patamar do presente. Eu me coloquei, enfim, no centro do meu palco. Nós nos tornamos protagonistas.
   
       Difícil encontrar-se quando tudo está perdido e mais complicado ainda é saber dizer adeus. E eu bato nessa tecla todas as vezes por que ainda não me conformei com as despedidas, mas já as compreendi. Eu precisei me abster de muito para ser eu mesmo e mais: estar onde eu quero.
Mas enfim, com muita dor, com muita ausência, com muita renúncia nós nos tornamos um só. Eu sou todas as coisas numa só e uma coisa só em todas as coisas. Nós aprendemos a lidar com todos esquecendo o passado e fazendo, de fato, o futuro ser agora, nós estamos nos conhecendo e sobretudo nos amando e mais do que isso: nós estamos amando os momentos que ficamos apenado conosco.
   
      Não que tudo esteja ótimo, pelo contrário, tanto você aí, perdido no tempo, e eu aqui, esperando pelo tempo, temos essa ligação com os inconformismos. E nada pode estar bom o suficiente pra nos fazer sentar:  Nós precisamos continuar andando sempre, precisamos ocupar nosso tempo para que o que precisa ser esquecido não ocupe o tempo do que realmente precise da memória. Hoje eu até sinto falta de você, todo com medo, esperando voltar pro lugar comum e fazer as coisas comuns de formas comuns, mas não podemos voltar o relógio da vida. O interessante é viver na corda bamba sobre um precipício, é estar se equilibrando e se arriscando todo segundo, e nós estamos assim.
   
     Tem dado muito mais certo que errado, e mesmo que erremos estamos acertando. Nós conseguimos. E eu escrevo isso com umas poucas palavras que me ocorrem, por que quando estamos vivendo mais, conjugamos mais: amar, viver, sorrir, ser. Você, no meu passado, no meu ontem, me ajuda a cada dia caminhar em frente, a ter uma bússola temporal que aponta pra um norte dourado. Nós, juntos, estamos nessa empreitada meu caro, sem volta! É um misto de emoções, de tristeza, felicidade, alegria, nostalgia e haja o que houver, venha a tempestade que viver, nós nos feriremos, mas nunca morreremos, por mais que tentem nos abater, há algo que nos motiva, há algo que nos une e sobrepujando a tudo, há algo que está na nossa essência: a verdade.
   
      Parabéns, meu eu de ontem, meu eu de hoje. Parabéns a nós, que vencemos o tempo e as intempéries, que saímos da coadjuvância, que aprendemos o peso e a dor das renúncias e que mantivemos a verdade viva e pulsante em nós mesmo que as mentiras fossem convictas demais. Nós chegamos aqui, e pra trás nem pra dar impulso!