Olhos Secos.

18:24:00

Essa almas fatigadas
Esperando seu fino colchão,
Desesperadas pelo sono, pelo íntimo, pela privacidade.
Elas todas perdidas nos formigueiros
Que se erguem pontiagudos pela cidade,
Que vergonha este comboio!
Todas almas perdidas em seus sonhos
Tão singelas, tão simples, e tão inalcançáveis...
Recolhidas às suas pequenezas,
Recolhidas à insignificância, como animais
Estão todas indo para o abatedouro.
Mais batidas que massa de pão,
Prontas para alimentar aqueles que não sabem quem são.
Perdidas entre as linhas da vida,
Perdidas entre os trilhos que os levam para a morte.
Cada dia é menos um em vida e mais um ao fim:
O rumo não é outro senão morrer.

Trabalham para a morte. Vivem para a morte.
Dia após dia, do alvorecer ao aurorescer de suas sesmarias,
Entram em seus corredores cansadas da existência.
Excepcionalmente há tempo para si, tentando refletir-se
Em seus olhos secos.
Não se perguntam quem são, para onde vão
E sequer enxergam sentido no que fazem.
Sua obra ao mundo é esforçar-se ao máximo para ser mais um,
Não ser destaque em nada sequer querer ser mais que alguém
Ter um sobrenome já as faz ser qualquer pessoa.
Essas almas, fatigadas, deitadas sobre o próprio braço
Pedindo arrego. Dentro desse comboio não há sossego.

-Boa tarde, este trem tem como destino a Estação Calmon Viana,
A CPTM deseja a todos uma boa viagem!

Olhos secos, corpo cansado, almas esgotadas. A vida é uma viagem ao fim.

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