Desculpa por não ser eu o escritor da sua história. Seria mágico sentar-me em frente ao teclado com seus olhos desconfiados dizendo pra apagar, reescrever, refazer e sentir a contestação dentro dos fatos. ''Não foi bem isso que nós vivemos, né!?''. Mas as mentiras comercializam bem.

Não serei eu, perdão. Os meus poemas já são utópicos demais e pouco condizem com a realidade, ora, quem afirma com tamanha convicção que nós somos pássaros? Nós não somos nada, nós estamos sempre presos em algo ou alguém e, infelizmente, você é quase uma rocha sobre os meus pés.

Tantas vezes eu quis fugir, tantas vezes eu quis me esquecer, ir embora, dar adeus e nunca mais voltar...e eu sempre retornei. Não que eu quisesse mesmo voltar, mas é por não ter pra onde ir que eu permaneço por aqui. Mas eu sou só um pobre que desenha umas palavras no papel. Eu pouco sei das normativas da vida, não compreendo física quântica, por exemplo, e sequer sei como uma estrela se forma. A minha visão de mundo é limitada à liberdade das minhas utopias. Eu vivo sempre distante.

Mas dessa vez, bem, dessa vez não vai ser diferente. Vai acontecer a mesma sucessão de erros, um novo ano entrará, a saudade será mais uma vez realidade dentro do meu coração e você...Você estará vivendo sua vida, andando no seu carro por caminhos quase paralelos aos meus, pulando de coração em coração, inspirando tantos outros poetinhas perdidos nas palavras. Que magnífico!

Talvez a maldade maior seja o meu ciúme poético pela minha musa. Que horrível a sensação de dividir você com outros palavreados, outros estilos, outras escolas literárias. Meu Deus, que tortura saber que o seu semblante também inspira as outras pessoas! Não, eu não quero pensar nisso.

Prefiro ater-me aos pensamentos tão chulos, tão vazios, tão opacos, em que vivemos naquela casa decorada ao nosso gosto, com a nossa família do nosso jeito, meus cachorros, seus gatos, minhas músicas, seus filmes, meus quadros, suas fotos. Tudo nosso. Prefiro viver onde nos completamos no café da manhã, onde nos preenchemos com um sorriso frouxo sem jeito. Ah, meu amor...Como os instantes que eu imagino são fantásticos! Tão fantásticos que eu mal disse que não escreveria a nossa história juntos que já estou escrevendo-a. Resguardarei-a dentro do meu coração pra que só eu saiba quem você é pros meus olhos.

Não me importa quem diz que isso é sonho, fantasia ou até mesmo insanidade. Não me importam os corpos que sentem os arrepios da sua pele ou o seu olhar fixo de águia. Não, isso não é problema algum pra mim. Aquilo que eu amo em você vai além desse plano e nós, enquanto água, um dia nos encontraremos. Pode ser que nosso destino seja no mar, pode-ser que seja no ar, pode ser que sejamos chuva. Mas a nossa história juntos, querido, não sou eu quem escreverá.

Minha caneta e meu papel estão entregues a você, agora eu sou seu personagem.