Feliz Adeus.

07:05:00

Aonde foi que a minha alma se perdeu?

Andei e andei só. Esse ano tive que puxar sozinho os fados que me impuseram e assim o fiz. Eu diria até que fiz bem, fui jogando algumas bagagens à beira do caminho, deixando de lado algumas coisas que são atrasos irrefutáveis na vida e vivi. Se vivi mal ou bem, sei que dessa vida levo um livro de lições que não creio e acabo cumprindo involuntariamente, às vezes odiar quem fica cagando regra nos faz ser uma dessas pessoas.

Esse ano foi confuso na questão cronológica, alguns dias demoraram meses e alguns meses demoraram horas. Poucas lembranças são vivas e fortes para que eu sorria e chore. E eu chorei muito. Me vi uma criança no colo da mãe pedindo socorro, literalmente, e quando o choro não era suficiente para o alívio das dores do peito, quase me pus numa cova. Tal tentativa infeliz só me fez ver a força que as contrações estomacais podem ter sobre um corpo e como os achismos sobre a química são péssimos. Falhei na tentativa de morrer. Não estou lamentando, pelo contrário, fico feliz em saber a que ponto cheguei e de onde saí sozinho.

As palavras que eu quis ouvir, os abraços que eu quis receber, os ''Calma Philippe, nós vamos fazer isso juntos!'' não vieram. Logicamente isso não me abalou, mas sentimentalmente senti a falta que sempre senti nos vinte anos que nos arrastaram para o hoje. E, sinceramente, até que esses tapas na cara foram bons. Não é de todo mal tomar uma dose de realidade de vez em quando, a vida não é sempre poesia - e quantas eu escrevi!

O ano que se finda deixa muitas lições que não enumerarei. Guardo-as no meu peito como a prova de que sobrevivi aos tempos mais difíceis da minha vida. Foi um ano em que, literalmente, andei sozinho numa via perdida no nada. De um lado pasto, de um lado matagal. E agregando os que estavam sozinhos, cheguei onde precisava. Não importa o problema que acontecer, há sempre um lugar para retornar. E eu retornei pra me recarregar, pra me reconstruir, e no meio dos perdidos me encontrei e hoje, junto com esses perdidos, pederastas, mulambos e desclassificados, é que eu caminho.

É no meio dos pobres e oprimidos que eu me sinto completo. É no meio daqueles que vivem suas dores das formas mais intensas, que choram quando as lágrimas chegam, que vão ao fundo para chegar à superfície, que é o meu lugar. Com essas pessoas que eu aprendi a nadar. E nadar, nem sempre, nos leva a algum lugar, às vezes é só pra que você não afunde. Eu também perdi meu grande amor - ou meu grande amor se perdeu?

Pouco sei das coisas tangíveis à quem me inspirou tanto poema, só sei que perdendo a vontade de viver e o sentido de existir, hoje sua casa é de recuperação e meu desejo é que não só supere sua dependência, mas que encontre motivos que completem seu eu. Tudo o que a gente quer na vida é preencher as fissuras que naturalmente acontecem. As minhas estão aqui, nas palavras, sempre abertas e escancaradas para quem quiser ver. Não me envergonho de não ter, ainda, vivido um grande amor de forma intensa. Não me envergonho de não ter comigo grandes títulos ou sobrenomes. Me envergonharia se fosse um vendido às mascaras. Eu sou mais do que eu mesmo.

Sobretudo às dores, ficam as lembranças doces daqueles que encontrei, daqueles que rumaram em outras rotas e daqueles que, num piscar de olhos e veias entupidas, se foram. E a dor da morte é a que revela quem nós somos. A sensação de impotência e fragilidade é revelada a nós quando vemos o cadáver que tanto viveu estar inerte à uma cama de flores. E nesse dia, tão triste, eu estive realmente sozinho. No dia em que meu avô se foi e eu estava totalmente quebrado, ninguém veio e fiquei calado, chorando mudo, esperando a minha hora de ir embora. Tive de levar a vida como se nada ocorrera, mas ocorreu.

Nos momentos de real despedida é que nos damos conta de que estamos a passeio. Quem se importa com os títulos, com as conquistas e com as riquezas, pouco fará na sua passagem. Hoje eu quero viver, apenas. Levar a minha vida sob  as minhas mãos e, com as minhas rédeas, caminhar para onde desejo. Já não vale a pena me doar por inteiro e ser um grande muro (e mudo) das lamentações. Não vale a pena me esquecer de quem sou para estar lembrando o outro quem ele é. Se atenuar na explosão dos outros é um erro que nos leva, fatidicamente, às lágrimas do adeus mais duro que pode existir. Mas que precisa acontecer.

O ano que já se inicia dentro de mim vem otimista, como todos os outros. Os desejos, agora, são outros e são egoístas o suficiente pra pensar em mim. Não sou uma galinha com os pintinhos embaixo das asas. Tu és homem, Philippe! E assim serei. Já não preciso esconder quem sou, o que quero e para onde irei, tudo se tornou uma questão de tempo e que os próximos 365 dias me façam chegar a um lugar, definitivamente, só meu. Na vida somos nós fazendo e lutando contra nós mesmos, ninguém realmente se importa, todos precisam viver.

Quem é que vai ouvir a minha oração? Feliz 2015. Adeus 2014, você não volta mais.

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