Ouvir Adeus.

18:29:00

     Dizer adeus é sacrificante. Lembro-me da frase num discurso proferido pela professora paraninfa da turma dos formandos 2008 num mar de emoções pré-adolescentes. Dizer adeus é sacrificante. Jamais imaginaria o quão profundas aquelas palavras eram. Soaram tristes. Permaneceram tristeza. Dizer adeus é sacrificante, sim, bem sei. Adeus à casa costumeira, aos amigos, à rotina, às pequenas distâncias vencidas pelas pernas, ao interior. Todavia, dizer adeus traz consigo as novas esperanças, as novas perspectivas, os novos desejos, o novo: o medo. Saber dizer adeus é a lição que está entre as difíceis desse cadernos de exercícios que é a vida. Poucos sabem fazê-la, e os que copiam esses, nunca saberão fazê-la novamente.
     Ainda sou leigo e engatinho nesse meio. A gente se prepara para um dia ter que dizer adeus na esperança vã de que não ocorra tão abruptamente quanto a palavra é, que seja natural, um curso da vida, um adeus não sentido. E o curso da vida é, por si, abrupto. Ainda sim, de uma forma ou de outra aprende-se a dizer adeus. Não sabe-se, contudo, ouvi-lo. -Adeus Philippe, te conhecer foi um presente. Como? Um presente? Quem dá adeus a um presente do destino? O próprio destino. Ouvir adeus é o sacrifício mor da própria palavra. Saber que não é você que acena em despedida na busca de um novo voo livre, ainda que a queda seja inevitável, ata as mãos e nos coloca em nossa pequena coadjuvação: somos o mero receptor do diálogo.
     E enquanto receptores, nos cabe saber respondê-lo da forma menos clichê possível, que na maior distância desse lugar comum ainda continua nele, escorrendo pelos nossos olhos na tentativa de questionar.
-Adeus? Como assim? Ouvir a Deus é aprender ouvir adeus e entender que nós somos meros ciganos na vida terrena, seja nossa própria, seja alheia, entender que não vamos estar sempre lá, mas que permaneceremos sempre aqui, com o adeus que nos foi dado e a esperança, ínfima, do retorno transformador. Uma temporada em Toronto, Londres, Paris...cada um sabe o adeus que lhe transforma e a esperança que lhe mantém.

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