Procura-se Um Ombro.

20:35:00

Procura-se um ombro. Que saiba afagar e não carregar,
Afinal, procura-se um ombro, não procura-se um lombo.
Que entenda que o caminho, clichê, é longo
Mas tampouco se preocupe: que ouça as histórias
E que as apague da memória para que nunca se fatigue.
E mesmo se fatigado, é este ombro que procuro ao lado,
Que saiba que está errando e mesmo assim fique.
Procura-se um ombro repleto de afagos,
Que não seja oco e de sentimento pouco,
Saiba se contentar por ser ombro e nessa função
Permanecer tão esperançoso quanto uma oração.

Procura-se um ombro. Eu já disse.
Que saiba que sou repetitivo, cansativo, carente
Mas enquanto ombro, que comigo somente
Se contente. Seja ombro, travesseiro e amante.
Que seja o ombro de agora ou antes, que permaneça
Sendo escora e saiba que todo o meu drama é mera esmola.
Procura-se ombro que manuseia as palavras,
Que saiba escolhê-las sem que me ofenda
E que compreenda: eu faço qualquer gota ser oceano.
Este ombro tem que saber também: eu sou pisciano.
Não seja razão, seja paixão. Que seja o ombro à frente
Do meu nariz nas noites em que eu quiser dormir abraçado
E que acorde, dentro dos meus braços, todo amassado.

Não precisa ser definido, tampouco malhado,
Não precisa ser largo, nem desenhado a pincel,
Procura-se um ombro, qualquer, mas que seja único
E em sua unidade seja o travesseiro do meu rosto cansado.
Pode vir acompanhado de uma mão que segure as minhas duas
E com a outra diga, tão compreensivo: Nós. Em alta voz.
Sem embaraçar, sem titubear, sem machucar, sem expectativa,
Procura-se um ombro em que eu apenas possa encostar.
Procura-se ombro que quando eu me levante tenha um sorriso
Único, infinito, embaraçoso - que conjugue o verbo terminado em ar.
Procura-se esse ombro.

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