A Gaiola da Liberdade.

18:47:00

    Às vezes a gente precisa se libertar pra entrar dentro de outras gaiolas. A gente precisa lutar numa revolução pra se prender a outros sistemas de poderio, controle e manipulação que nos conforte - Estar preso por ser o melhor tipo de liberdade. Prender-se é ser livre, é a essência do ser humano que não sabe viver a esmo pela selva que é o mundo. Primeiro a mãe, depois os amigos, depois o amor, depois os remédios, depois o caixão. Cada um é livre na gaiola que lhe dá segurança.
     Prender-se na gaiola de alguém e sentir-se pássaro livre, cantarolar o dia inteiro e repousar durante a noite com a certeza do alpiste novo ao amanhecer. Às vezes estar preso também é ser livre. Estar dentro da gaiola de alguém é ser sereno como um pássaro num coração sombrio e preso a dogmas sem fundamento. Ser livre é prender-se no infinito de alguém, não enxergando onde ficam as grades que nos barram do resto do mundo e mais do que isso, é ter alguém que transforme sua prisão em um infinito particular. É por isso que dizemos adeus - para alçar novos voos em novas gaiolas. Para encontrar algo que ainda não encontramos e alimentar essa sede pelo novo dia após dia.
     Um dia estamos sedentos por um brinquedo de última geração, outro dia estamos sedentos pelo primeiro beijo, pela primeira vez, pelo primeiro copo de bebida, pelo primeiro show, a primeira balada, nossa sede se transforma em sede de poder, sede pelo mais alto posto ainda que no estágio, sede pela cobertura ainda que só se possa comprar o apartamento do primeiro andar. A sede nos move a crer que grandes coisas são possíveis - se por elas batalharmos. Batalhamos pela aposentadoria confortável, pelo tratamento do Alzheimer, batalhamos para que possamos nos dar ao luxo de ir sem ter a dor de ser deixado dizendo adeus.
    É essa sede pelo infinito, pelo impalpável, que move nossas engrenagens e tudo o que uma grande máquina precisa é estar presa ao solo. Às vezes a gente tem que ser livre para encontrar a gaiola que nos assegura - Calma Philippe, já passou e eu permaneço! Quase sempre, a nossa liberdade mais confortante só o é por ser gaiola e de gaiola em gaiola a gente se conhece.

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