Eu: Preto e Pobre.

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Eu, Preto e Pobre.
À mercê da caridade,
Da bondade dos culpados.
Presos nos dogmas do seu elitismo.
Cercados de mim em suas grades:
Hipócritas!
Eu, Preto e Pobre: filhote de Hades.

Preto, Pobre e Preto.
Que livro as calçadas dos transeuntes:
Eu, Preto, Pobre e repelente
Alçando voo dentro da gaiola do coitadismo.
Deficiente de mim.
Deficiente de igualdade.
Eu Preto. Eu pobre. Eu intocável.

Eu, Preto e Pobre e Pobre!
Solto à vala marginal
Sendo servente, porteiro e empregado.
O seu redor: a prova cabal.
Algemado sou livre dentro da cela da hipocrisia,
Refém do zoológico humano dos discursos arianos.
Eu, Preto e Pobre: preocupação dos ricos.

Nenhum perfume me deixaria mais cheiroso
Que a distância de Higienópolis ou Leblon.
Eu: Preto e Pobre, longe daqui é que sou bom.
Nada me faz mais ''igual'' que a necessidade dos meus braços...
Trabalha escravo! Trabalha Preto! Trabalha Pobre!
Eu, Preto e Pobre: triste destino não ter sangue nobre!

Milhões de mim sendo coitados,
Tão Pobres e Pretos que não fazem um exército,
O psicológico se acovardou no chicote
Dessa petulância de meritocracia: Eu que me faça branco!
E que Deus me livre das minhas raízes: Preto e Pobre.
E que Deus te livre de mim: Preto e Pobre.

Eu, Preto e Pobre, preso à enxada da minha própria cova,
Amarrado ao moralismo
Dependente das vontades de me conceber ''vantagens''.
Eu, Preto e Pobre: só tenho deveres.
Eu, Preto e Pobre: Ou bandido, ou pedreiro.
Roubando as vantagens alvas e ricas?

Se eu fosse preto, pobre, mas livre, o branco seria o preso?
Se eu fosse ''normal'', o branco seria a força animal?
Se eu fosse hipócrita, faria discurso sem prática?

Eu, Preto e Pobre: amaldiçoado...
Eu, Preto e Pobre: desgraçado...
Eu, Preto e Pobre: algemado...
Eu, Preto e Pobre: coitado...
Eu, Preto e Pobre: orbitante dos ignorantes!

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