Palavras de Ordem.

18:01:00

Minhas mãos estão trêmulas. Meu cabelo está caindo todos os dias um pouquinho. Minha pele está ressecada. Mas nada se compara ao frio do coração. ''Calma, Philippe!'' eles dizem, também dizem ''faça isso'', ''faça aquilo'', ''vai pra lá'', ''vem pra cá'', ''se vira''. Todos eles tem um conselho pronto, uma fala ensaiada e um discurso decorado de quem nunca passou pelo que eu passo. Olhar o outro de fora é mais fácil e seguro do que mergulhar dentro do poço fundo que cada um é.

Eu sei o que eu estou sentindo. Eu sei onde está minha dor. Eu sei o que enche meus olhos e me faz sentar com a mão no rosto não querendo enxergar. Só eu sei. A realidade, caindo nos meus tantos clichês, é dura e cruel. Me esfaqueia sempre que pode e contorce meus órgãos sem a menor piedade. Eu sou um amásio em decadência. Cada vez que eu resolvo mergulhar dentro de mim acabo me afogando, eu gostaria de um pouco de ar, quem sabe um pouco de calma? Nada me convém mais senão meus pensamentos que vão longe antes que eu durma, meus pés quase deixam de tocar o chão. Mas a vida não é isso.

A vida é como alguém que te cativa e resolve partir sem dizer adeus, como alguém que lhe dá bom dia e nunca mais aparece. A vida é um instante que vira memória - o segundo que se passou não retorna. Eu estou quebrado, eu estou dolorido. Eu não consigo descrever essa sensação da impotência de um perdedor ou até mesmo essa humilhação que os campeões me impõem sem que percebam. São tempos difíceis para esse amásio. São só palavras de ordem o que eles dizem e o que eu preciso é alguém que traga a chave e diga ''Pronto Philippe, pode se abrir que eu vou mergulhar em você.'' O amor é um bicho feroz, é um ácido que está me derretendo, a droga que está consumindo o cérebro e levando embora tudo o que há em mim. Eu ou o rei da hipocrisia, querendo estar longe das pessoas vazias e vivendo num eterno vácuo cármico: ser sozinho do início ao fim. E o fim não será mais próspero...


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