Não deu tempo;

16:58:00

Não deu tempo. 

Não deu tempo de nos despedirmos e dizer que apesar das distâncias ainda seremos presentes. Não deu tempo de mais um abraço, de mais umas risadas sem pretensão alguma. Que ironia ser numa estação, cheia de indas e vindas, o nosso último encontro. Não deu tempo para falarmos mais sobre nossas crenças e nossos desejos, não deu tempo de eu inventar algum compromisso para nós. Tudo foi rápido demais, intenso demais e devastador demais. Você foi meu tsunami. Quando eu estava reconstruído, pronto, me sentindo livre e dono de mim, você chegou. Recomeçou a escrever meus versos e não os terminou...não deu tempo. Quando eu estava firme, seguro, você veio e me arrastou. Me pegou de surpresa e quebrou, literalmente, as pernas que me sustentavam.

Tomou de assalto com seu olhar, seus cabelos, seus dedos, todo o resto do meu coração que a duras penas se reconstituía. Tomou meus sentimentos, roubou minhas noites de sono, prendeu minha atenção e nem sabe disso. Nunca saberá. Não deu tempo de falar, não deu tempo de avisar, de dizer, de tentar fazer com que você se sentisse culpado pelo sentimento que eu deixei reflorescer. 

Não deu tempo de fazer nada.

Nem do cinema, nem do Jardim Botânico, nem do parque, nem do Paris 6, nem de algum show, nem de tudo o que eu havia planejado pra nós sem saber se você estava tendo, ainda que brevemente, essas mesmas ideias que eu. Não deu tempo de cativar, de saber, de conhecer e reconhecer. 

Você me devastou em pouco tempo e talvez nem quisesse fazê-lo. Talvez só estava sendo educado, atencioso, estava sem jeito de cortar a corda. Não sei. Nem nunca saberei. Pedi aos céus que essas últimas duas semanas se arrastassem e que durante esses 14 dias nós ficássemos juntos ao menos 13 deles. Eu te apresentaria aos meus amigos, aos pais dos meus amigos, aos meus lugares, ao meu mundo sem nenhum problema. Mas durante esse tempo sequer nos falamos. As semanas se passaram, tive de arrumar as malas, tirar os livros das prateleiras, descolar as fotos das paredes e pintá-las, apagando todas as marcas que contruí  desastrosamente com o tempo mas que falavam muito sobre a bagunça que fui. 

Esperei até o último minuto. Esperei qualquer tipo de questionamento. Enrolei. Dei voltas dentro daquela sala cheia de caixas, malas e sacolas. Olhava aflito para o telefone. Nada. Eu, que há tempos atrás escrevia pouco, sofria pouco e pensava pouco no meu sujeito presente no ''nós'', me tornei outro. Você fez com que eu reencontrasse a poesia triste, dolorida, melancólica, que havia dentro de mim. Me fez esquecer a pista de dança, os outros corpos, a noite regada a álcool e suor. 

Me transformou, me devastou.

Eu, que demorei tanto pra reconstruir meu coração, meu amor próprio, meu afeto pelas coisas reais da vida, estou perdido, triste, sofrendo por coisas intangíveis e que só cabem a mim. Eu queria ter tido tempo para amar plenamente. Eu queria ter tido tempo para ser amado.

Mas como tudo na vida adulta, infelizmente não deu tempo. A vida não deu tempo para nós, nem mesmo para eu me despedir. 

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