Rolo Compressor.

16:49:00

Quem dera nós tivéssemos um rolo compressor em nossos pés passando por cima daquilo que mais nos comove: os pequenos.

Ah, se eu pudesse não me importar com os pequeninos perdidos perto de mim, os caídos ao meu lado, os mortos de sede, cansados, cravejados em bala, ah, se eu conseguisse ignorá-los! Não o faço, feliz infelizmente. Minha essência materna, do sentido carinhoso dos  verbos cuidar, amar, zelar, me impede de comprimir os que já estão caídos.

Eu sou um guindaste pronto a levantar os caídos, a erguer aqueles corações que já foram dinamitados pelo orgulho, pela luxúria, pelo desamor. Não existe um rolo compressor em mim capaz de ignorar os perdidos, nos quais me encontro e desencontro e por quem, na infâmia de querer sobreerguê-los, escrevo.

Escrevo para animar os desanimados e reanimar-me quando estou farto. Escrevo por que a minha forma de passar por cima dos outros é essa: eternizando-os na palavra. E seja verso, seja prosa, seja música, seja onomatopéia, a palavra que sai é a palavra que vai, e quando se decide libertar a palavra, ela nunca volta. A palavra é o meu objeto de amor ao próximo, a palavra é o meu rolo compressor.

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