Eu queria escrever um poema
Que não tivesse como enredo um problema.
Eu queria escrever uma história real:
Algo avassalador, factível, puro e simples.
Queria escrever algo mórbido
Que de tão real fosse chato, péssimo!
Que rasgasse as palavras
E as trouxesse à sua pequenez morfológica.
Ah, se eu pudesse escrever!,
E não só tragasse as palavras
Enroladas nos papeis imbecis que me dispus
A criar pra nós dois...
Eu queria escrever esse poema real
Que fosse emanado pelo mundo,
Traduzido em várias línguas,
Levado a várias tribos,
Que fosse recitado na entrega do Oscar,
Na abertura do Grammy,
E que coroasse uma escola de samba campeã.
Tucatindundum, samba meu, poema nosso!
Eu queria escrever a realidade
Nas linhas retas e duras do papel.
Eu só escrevo devaneios que enxergo no céu
Tristes poesias de uma palavra só: você.