Cigarro Que Eu Trago.

18:49:00

Aquilo que me mata,
Cigarro que eu trago,
Não é o câncer do fado
Mas o cansaço da fadiga.
Ah, há quem me diga:
-Ah, mas que insanidade!
Mas que de fato importa
Se não a conta das perdas da idade?

Cigarro que eu trago,
Ah, é o fim do do meu fado!
A noite profunda,
Sem estrelas,
Quase muda...
Se não um andante!
Um passante!
Um fim de noite horripilante.

É como se eu tragasse,
A cada dia que se passasse,
O fim dos dias que eu teria pra viver.
Antecipando o fim da vida
Como se ela fosse fácil de viver.

Ah, eu trago
Comigo o meu fado,
Embaixo dos meus braços,
Como se fosse um mostruário:
-Olha o que eu perdi!
-Olha o que eu não ganhei!
-Olha onde estagnei!
(E de onde nunca saí.)

Aquilo que eu trago,
Cigarro de mago,
Não me faz jus ao nome
Ou aos títulos conquistados,
Porque é como se cada tragada
Fosse um adeus repartido
Dando adeus à partida.

E quem me dera dizer adeus:
-Vou viver outra vida!
Como se em cada cigarro,
Ah, cigarro que eu trago,
Eu trouxesse o que não me é útil
Dando utilidade ao fim.
Quem de fato eu trago
Senão aquilo que é vivo em mim?
E é assim,
Cigarro que eu trago,
Que aos poucos eu mato.

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