Rabisco.

19:58:00

Vejo os poucos amigos que ousam escrever e chego cada vez mais perto de concluir que as pessoas escrevem sobre o que lhes falta em plenitude. Como uma válvula de escape. Dias ruins, semanas morteiras, finais de semana quase em luto na reclusão do lar. Nada te salva senão a sua palavra. Diante da morte, diante de um tribunal, diante dos dias. Nada te salva senão a sua palavra, o seu álibi em compromissar-se com a verdade que carregar dentro do peito.
Escrevinhar em qualquer papel, formular versos ora desconexos, ora profundos, ora irrisórios, me permite reformular e tentar todos os dias ser eu mesmo, ali, ou aqui, preso nas palavras cheias de significados do dicionário. Às vezes subjetivas, às vezes formuladas pra não haver sentido ao leitor que não as vê com meus olhos. Eis uma das dificuldades de escrever: transmitir os meus olhos, a minha carga valorativa, aos que leem aquilo que produzo. São poucos, bem sei, desocupados, também, cheios de sonhos, provavelmente. Mas de certa forma, a universalidade da escrita permite-me conversar com diferentes entes por aí, que não sei quem são em figura ou no subjetivo.
Falo de amor, de saudade, de fé, de tristeza, do meu pessoal, da minha paz, da minha dor, escrevo minhas situações, completando tudo o que falta. O pleno de mim está escrito. E Robertos, Setes, Oliveiras e tantos outros são a figura da carga valorativa que espero encontrar no outro da vida, se é que o há. Há a possibilidade eterna da solidão, do ser sozinho e nunca ser nada, das coisas erradas acontecerem como certeza e no fim ser eu, as palavras e nada mais. Eu e tudo em plenitude escrita.

You Might Also Like

0 comentários

Subscribe