Jazigo.

17:49:00

Aqui jaz Philippe Gama,
Homem íntegro durante seus dias em vida.
Da eterna palavra como rocha,
Do compromisso em compromissar-se com os outros.
Aqui jaz este homem,
Baluarte de sua família, esplendor da nobreza.
De tanto viver, sentiu o fado aos poucos anos de vida...
Nem levou tristeza, nem dor.
Morreu como uma vidraça, límpido, puro.
Havia em seu peito tristeza, bem verdade, mas
Junto dele, à terra, foi seu sorriso.
Falso sorriso que mentiu tantas vezes
Sobre estar tudo bem.

Sob estes sete palmos de terra negra
Jaz o homem que se auto-intitulou Senador
Sem ao menos comparecer a uma plenária,
Sem haver parlamento que o houvesse visto,
Sem haver um voto pleno que o prestigiasse.
Jaz o homem que se letrou poeta
Sem nunca ter poetizado ou escrito relevâncias,
Jaz o homem que se doou, doou, doou
Até que se esgotasse ao fim.

Quem esteve no dia de seu funeral
Pousou sobre seu traje nobre e negro
Uma rosa vermelho-amor.
Que redenção houve para o pobre dentro da caixa?
Teve tudo dentro de seu cérebro,
Teve nada dentro de suas mãos.
Não deixou posses, não deixou sentimentos,
Seu legado foi o de sofrer,
De absorver toda energia que enegreceu outros perispíritos
Para fazer do seu eu a porta do inferno na terra.
Não soube conduzir-se assim.

Neste jazigo, todo em pedra negra,
Paira o luto da mãe que perdeu seu verdadeiro amor,
Do pai que perdeu seu menino,
Da família que perdeu seu ente mais expressivo na sociedade.
Não terminou o curso que lhe diplomaria,
Não terminou os versos do caderno escondido no armário,
Não enviou as cartas amarradas dentro do baú,
Nem disse tudo o que sentiu e sofreu.
Neste jazigo não está seu pó nem seus restos,
Levou consigo tudo o que fez e o que perdeu.
Dói, bem verdade, mas quando se foi sorriu.
-Está tudo bem, meu Senhor, me leva...
E seu espírito, enfim, iluminou-se ao encontrar
O amor do Eterno, compreendendo que sua carne
Simplesmente foi uma passagem doída.

Suplantou suas dores, suplantou suas tristezas,
Regou esta terra que o cobre várias vezes
Com as lágrimas do seus amores, suas dores.
Triste fim de Philippe Gama.
Não chegou ao Senado,
Não chegou a publicar algo,
Não discursou como planejara,
Não cantarolou, não fez jantares
Não recebeu o amor de seus pares.
Morreu vazio sem nunca se sentir acolhido
E agora, o que lhe cobre e lhe acolhe,
É o infinito fim que há neste jazigo.

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