Corre Uma Lágrima.

17:46:00

     Corre uma lágrima sempre que eu acho que fiz algo pro mundo, como se eu mesmo não houvesse feito muito mal a mim mesmo na tentativa de não fazê-lo a mais ninguém. E essa lágrima corre dos meus olhos descendo como ácido em minha pele, já tão cansada pela poluição dos dias, pela poluição da alma, pelo cansaço do viver e nunca ter vivido. Corre uma, duas, três lágrimas, quantas se fazem necessárias, pra me lembrar: -Cabeça dura! Cabeça dura! Não é você! Olha, não é você! Que lágrima mais dura que um tapa na cara.
     E quantas lágrimas ainda correrão dos meus olhos sem secar todo líquido do meu corpo? As lágrimas sã o infinitas. É como se toda dor se transformasse numa lágrima, e minha avó viesse com sua mão em meu ombro e me dissesse: -Chora filho, chora que passa! E passa mesmo? Ou a gente se ilude achando que aquilo que se secou no lenço, enfim, foi solução para os nossos problemas? As lágrimas me questionam os porques. Por que não eu? Não seria, eu, bom o suficiente? Porque? Porque a vida está tão difícil? Eu sou só mais um na marginal, já fatigado, querendo colo, pensando no que fiz da vida, sem saber para onde ir e se for, se chegarei. Correm várias lágrimas quando as dores chegam à minha frente sorrindo.
     Olho no olho eu sou o mais fraco, o mais triste dos seres tentando fazer todos da plateia rirem ao olhar pro picadeiro. A maquiagem de palhaço nunca maquiou os sentimentos. Não há entrega maior pra mim do que escrever, sejam poemas, sonetos, crônicas ou cartas. Me rendo ao mistério do meu cérebro como me rendo sempre aos que ousam, assim como as dores, me encarar no fundo dos olhos.
     Sempre me encaram, até que eu abaixe a cabeça e chore. Correm várias lágrimas devido minha fragilidade. Que perigo eu sou a mim mesmo, nem mesmo me martirizar até a morte foi possível. O desejo inexplicável e suicida correu, como lágrima. E que me fere saber que sou um menino carente molhando a terra com várias lágrimas? Em nada. Eu sou o que sou. Esse misto de tristeza, amor e um carga valorativa que ora me pede pra parar, ora me pede pra continuar. Nem sei qual dos lados está correto, como se tudo na vida fosse na base do ou. Ou eu, ou ele. Ou isso, ou aquilo. Ou nada! Eu quero tudo! Eu quero abraçar o mundo sem ter medo de perdê-lo, eu quero deixar minhas lágrimas correrem na minha pele até se encontrarem com outras, eu quero o sorriso quente no pé do ouvido dizendo: -Calma Philippe, não precisa mais chorar, eu estou aqui, eu te amo.
     E quem está ''aqui'' senão a morte de cada pedaço de mim durante todos os dias? Eu não quero ser julgado num tribunal sem poder apresentar meus álibis, e de fato, o julgamento já parece estar no meio. Algemado, atado, preso à cadeira de madeira eu sou mais um inocente acusado injustamente, que sequer pode dizê-lo ser sem virar chacota. -Mas...mas...eu... -Rárárárá. Ecoam os risos no meu cérebro circulando cada dobra do órgão máximo da vivência. -Você não, Philippe. Você não. Você? Não.
     E quando, enfim, as lágrimas deixarão de correr e eu sorrirei? Essa resposta eu nunca sei, mas sempre quando o questionamento emerge...corre uma lágrima.

You Might Also Like

0 comentários

Subscribe