Mas veja que trocadilho infame a vida, Roberto!
O mundo parece um ovo de galinha d'Angola:
Pequeno, pintadinho, cabendo na mão.
Mas não! É sempre um ledo engano:
É menor até mesmo que um ovo de codorna.
Já tentou fritar um ovo de codorna, Roberto?
Nunca tentei, se eu morresse hoje minh'alma choraria nos céus:
-Deus, me deixa reviver só pra fritar um ovinho?
-Gema mole ou gema dura?
Não sei, será que elas bater-se-ão ''até que fura''?
Estava andando pela casa de cueca e camisa jeans,
Camisa jeans foi moda há seis meses atrás, hoje é retrô.
Que me importa? Eu jantei num bistrô,
E você Roberto, o que/quem comerá esta noite?
Que trocadilho infame!
Voltarei pro meu vinho, pra minha televisão,
Voltarei pro meu livro do Pessoa,
Aliás, que Pessoa é Fernando, não!?
Covarde. Assim como eu. Covarde, não comeu.
Nem gema mole, nem gema dura.
Ah, vida, esse eterno poema de trocadilhos infames...