Cárcere.

18:44:00

Você está aqui comigo.

Eu sinto durante os dias a sua presença. Você não se comunica, não aparece, nem me dá um sinal que me causa medo. Mas a sua alma ainda faz parte da minha. Nós nascemos pra nos conhecermos durante esse curto período e também pra que eu aprendesse com a sua evolução quem eu sou. Eu não sou nada, você repetia isso várias vezes, e me fazendo crer no ''ser nada'' é que você me mostrou quem eu sou. Eu sou eu.

Sinto sua falta, Théo. Ainda não consigo imaginar que fúria o levou pra longe de mim tão repentinamente e agora a dor é saber que nunca, jamais, nos reencontraremos de novo. Jamais é uma palavra que me toca profundamente, você sabe. Eu jamais vou me esquecer de você, Phil. Uma vez você disse e espero que nas últimas fagulhas de ar eu ainda estivesse com você. Eu, Philippe, jamais me esquecerei de você. Você foi fantástico.

Eu fiz aquilo que lhe disse que um dia faria. O orgulho nunca levou ninguém a lugar nenhum e eu baixei a guarda. Não preciso viver com mágoas e tristezas quando posso exortá-las ao vento, não? Você ainda me ensina, mas poderia estar vivo com o seu jeito desengonçado e sorriso torto. A gente se dava bem até quando brigávamos por pontos de vista diferentes sobre um mesmo tema. A política aqui anda um pouco bagunçada, a economia idem e minha vida...bem, você sabe mais do que eu...

Hoje eu fiz a barba. Estou redescobrindo não só o meu rosto, mas os momentos que passei e que ainda sinto tanta saudade. Lembra-se daquela balada que fui por acidente com amigos? Lembra-se da outra da tequila tripla? Lembra-se da vez que eu estava na feira comendo pastel às 8h de um sábado? Todas essas vezes o cheiro dessa loção pós barba estava em mim. Que sensações a gente consegue buscar só pelo olfato, não?

Não consigo mais usar aquele perfume que você elogiou certa vez. Ele me lembra você. Por mais que eu quisesse te esquecer, já não posso mais, mas quero ficar uns dias tentando não lembrar da nossa vida, da nossa amizade e sobretudo da nossa parceria. Não tenho mais pra quem mostrar meus poemas, meus textos, meus desenhos, tudo em primeira mão. Agora sou eu por eu mesmo. Ninguém mais vai tomar o seu espaço, isso eu prometo. Estou me fechando pro ''eu te amo'' pra não ter que lidar (novamente) com mais perdas que ganhos.

Só direi quando eu tiver força para falar, quando meus olhos não se desviarem mais e eu mudar de assunto. Eu exitei muito e hoje me sinto culpado. Eu poderia ter feito muita coisa por você, uma delas seria tirar a barba, mas não o fiz...E me arrependo, e dói, e sofro. Mas você mesmo já disse: ''Calma Philippe, nada é eterno, nem nós!'' E estou crendo que esse luto não é eterno, essa dor não é eterna, esse meu momento tão ruim não é eterno. Eternas são minhas palavras...e elas já disseram muito, mas como posso eu calá-las? Me resta esse cárcere, esse fado e sobretudo essa pena: escrever sobre você.

Eu te amo. Você não vai ouvir, não vai ler, mas pode sentir...eu também te sinto aqui. Até o meu desencarnar. E quando eu me for, você vai me esperar pra me ouvir? Acho que não. A gente foi inconstante demais...

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