Luto por um mês, um ano, uma vida...

18:31:00

Há um mês atrás me ligaram enquanto eu estava possesso dentro do trem pelas frivolidades que a vida tem, inevitavelmente. Aquele realmente tinha sido nosso último encontro.

Eu chorei, Theo. Solucei e molhei meu travesseiro com a tristeza que nunca havia sido mexida em mim, não é natural que você, tão jovem com 22 anos, saia da vida e caminhe pra morte. Ainda choro quando me lembro das ligações e eu explicando que, além de ser verdade, foi trágico. Se eu pudesse controlar algo, eu ao menos deixaria você dormir pra sempre e se esquecer da desencarnação...

Não tive coragem de olhar você por muito tempo. Meus olhos escuros embaçaram e não era você ali, nunca seria. Fui embora com a certeza: realmente foi a última vez. E eu não disse muita coisa e agora estou aqui, engasgado. Há uma carta, ainda lacrada, perto do meu coração. Eu sempre tive medo do que você tinha pra dizer. Se lembra da nossa última briga? ''Você ama assim por que tem medo de fazer do jeito certo, você gosta de ser errado, Philippe! E eu odeio isso em você de uma forma que eu não consigo virar as costas, é um toc pra mim tentar te consertar!!!''

Você falhou em vida, venceu em morte. Não quero saber o que você me escrevia tão cedo, eu poderia chorar mais um tempo, voltar aos remédios tarja preta...ai, você sabe da minha vida. Faz um mês que você morreu e não me levou. Não me ligou. Não me avisou. Você jurou que tudo ia ficar bem e que você sairia pra gente fazer aquelas coisas que tínhamos planejado...seus dedos, provavelmente, estavam cruzados.

Um dia já nem se lembrarão de você todas aquelas pessoas que soltaram os 22 balões. Nem mesmo aqueles que lhe queriam tão bem vão se lembrar. Quando uma parte de nós morre tão abruptamente, a gente tem que se preocupar com a parte que ainda vive. Seu sorriso já começa a desaparecer da minha cabeça, já não recordo tão bem da textura dos seus cabelos e do cheiro do seu Malbec. Havia muita coisa diferente em você e a sua vida, por si só, foi algo diferente dentro da minha.

Tão breve e tão profundo como o primeiro mergulho, eu me afogo diversas vezes nas nossas memórias. Eu jamais me esquecerei de você Theo, nós temos um contrato eterno. E eu acho que sempre te amei do jeito certo, acho que você queria me consertar por que no fundo já sabia, nós não seríamos poesia, apenas um verso.

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